A Eternal Reefs, uma instituição de caridade norte-americana, com sede na Flórida, presta um serviço que garante a cremação e alocação das cinzas no fundo do mar. A empresa diz oferecer uma “forma de retribuir após a vida, ao reabastecer os sistemas de recifes naturais em declínio”, segundo o jornal britânico The Guardian.

O processo passa por colocar “bolas de recife” juntamente com cinzas humanas em áreas regulamentadas no fundo do mar, nos Estados Unidos. É possível que familiares e amigos possam localizar as cinzas, uma vez que recebem as coordenadas via GPS do local do “túmulo” do ente querido.

A instituição de caridade diz que viu o número de pedidos triplicar durante a pandemia, principalmente de pessoas apaixonadas pelo mar e cuja noção de que este processo pode ser importante para a regeneração da vida marinha.

O caso de Janet Hock

Janet Hock é uma antiga professora de medicina dentária, que mora em Indianápolis. “Nós andamos pela Terra, mas há todo um outro mundo que está cheio de vida – ou costumava estar”, afirma a ávida mergulhadora.

De acordo com o The Guardian, Janet já decidiu que quando morrer se vai tornar parte de um recife coral.

O pedido suis generis significa que, na prática, os restos mortais do defunto uma vez cremados são misturados numa “bola de recife”, que se torna num recife artificial. “Estamos a fornecer uma estrutura para os peixes nadarem e um lugar para as plantas crescerem”, diz Hock.

Os corais estão a desaparecer

"A dura realidade é que não há um limite de aquecimento seguro para os recifes de coral", que abrigam um quarto da vida marinha, diz Adele Dixon, da Universidade de Leeds, no Reino Unido, autora principal de estudo que afirma que, considerando a meta mais ambiciosa dos acordos de Paris, firmados em 2015, limitando o aquecimento a +1,5 ºC em relação à era pré-industrial, mais de 99% dos corais não conseguiriam recuperar-se das ondas de calor marinhas, cada vez mais frequentes.

E mesmo que haja um cumprimento das metas do Acordo de Paris, o futuro não é muito promissor. O aumento da temperatura da água provoca episódios de branqueamento dos corais que enfraquecem esses organismos.

Murray Roberts, professor de biologia marinha da Escola de Geociências da Universidade de Edimburgo, crê que é uma boa ideia proceder-se à junção de cinzas humanas com a chamada “bola de recife” com vista a criar um ambiente artificial no fundo do mar: “Os corais e todos os tipos de animais crescem melhor com uma estrutura. Não consigo ver nenhuma desvantagem óbvia.”

Roberts diz ao The Guardian que incorporar cinzas humanas em recifes artificiais pode ajudar a protegê-los da destruição.