O Papa Francisco falou hoje da necessidade de falar e de agir tendo como destinatário a pessoa concreta. Parece óbvio, mas, seja perdoado o aforismo, o diabo está mesmo nos detalhes.

Quando os políticos falam no povo, por exemplo. O povo é uma entidade abstrata a que é bastante mais simples – e indolor – aludir do que às pessoas concreta que efetivamente o constituem. As pessoas concretas que, como disse hoje o Papa, são bons e maus, estão felizes e infelizes, são justos e pecadores. As pessoas concretas pelas quais precisamos “sujar as mãos”, porque “amor é sujar as mãos”.

As pessoas concretas que são pobres, como os habitantes do Bairro da Serafina que hoje recebeu o Papa com a mesma alegria e entusiasmo que tem sido a tónica onde quer que passe. “Não tenham nojo da pobreza”, foi a mensagem que Francisco deixou mais tarde no encontro no Centro Social Paroquial São Vicente de Paulo.

O princípio do dia de hoje foi igualmente uma boa analogia do que significa falar para as pessoas concretas e, já agora, comportar-se como uma pessoa concreta que se preocupa com os outros. O Papa dirigiu-se ao Parque do Perdão, em Belém, onde foi confessar três peregrinos. Foi-lhe reservado um confessionário à vista dos muitos milhares que têm estado por onde o Sumo Pontífice passa – e também à vista da imprensa, claro.

O Papa decidiu não só mudar de confessionário como dispensar a cadeira especial que lhe estava atribuída, sentando-se num banco igual ao de todos os outros padres que ali têm ouvido as confissões dos peregrinos.

É só um gesto? Alguns talvez achem que sim, outros até podem ver nisso uma decisão própria para causar o efeito pretendido. O que neste caso é apenas um bom resultado – para dentro e para fora da Igreja. Uma forma de traduzir a ideia de igualdade e de respeito pelas pessoas concretas.

Pelas ruas de Lisboa, à passagem do Papa, ouve-se invariavelmente a frase “esta é a juventude do Papa”, dita por eles, os jovens, e pelos que não o são, mas que vislumbram nestas palavras uma esperança de que o futuro pode ser diferente. Mesmo que o presente seja tantas vezes um tempo de dificuldades. Às pessoas concretas, que somos todos nós, Francisco deixa uma recomendação: “E quando desanimarem, bebam um copo de água e continuem”.