A posição surge no artigo "Um falso problema", o seu primeiro editorial assinado no diário estatal, após a nomeação, pelo Presidente da República, para o cargo de presidente do conselho de administração da Edições novembro, que publica o Jornal de Angola.

"Anda parte do país meio atónita com o ritmo que o novo ciclo político vem imprimindo visando a normalização da vida de todos nós, a começar pelo controlo das principais fontes de receitas do Estado", começa por escrever o diretor do jornal.

Acrescenta que "o novo ciclo político, afinal, não tem feito mais do que foi prometido durante a campanha eleitoral", sobretudo "na moralização da sociedade através do combate à corrupção, do fim da impunidade e da abertura de oportunidades iguais para todos".

"Por isso, não surpreende as mudanças operadas nas principais empresas públicas, às quais se devem somar às feitas no setor financeiro", refere, para acrescentar: "A que seguirão, não se tenha dúvidas, outras mais".

"O facto de algumas mudanças terem atingido figuras consideradas ‘intocáveis' fez nascer uma onda de ruído de que o atual Presidente da República estaria empenhado numa ‘caça às bruxas' a pessoas próximas ao ex-Presidente e líder do MPLA [José Eduardo dos Santos]", escreve o diretor do Jornal de Angola.

João Lourenço foi eleito a 23 de agosto como novo Presidente angolano, sucedendo a 38 anos de governação de José Eduardo dos Santos, que no entanto se mantém na liderança do MPLA, partido que venceu as eleições.

Nos seus primeiros 50 dias de governação, João Lourenço exonerou as administrações de todas ás áreas nucleares do setor empresarial do Estado, como na banca comercial, diamantes, comunicação social e já esta semana nos petróleos.

Sobre a Sonangol, que se tornou o principal exemplo na governação de João Lourenço, com a exoneração da filha do anterior chefe de Estado, o diretor do Jornal de Angola afirma que "a questão não deve ser posta no facto de Isabel dos Santos ser filha do ex-Presidente da República".

"Se calhar, ou talvez por isso mesmo, a petrolífera nacional não conseguia os financiamentos externos necessários ao seu desenvolvimento por saber-se que no combate ao branqueamento de capitais há pessoas politicamente expostas, as chamadas PEP, que estão sob o radar do mundo financeiro mundial", justifica Victor Silva.

Por isso, acusa, a petrolífera estatal "viu agravar a sua dívida e complicar as relações com as operadoras estrangeiras".

"Ninguém tira o mérito de se ter conseguido baixar os custos de produção nem de outras ações (a que preço?), mas a falta de diálogo e o excesso de burocracia estavam a pôr em perigo a saúde da ‘galinha de ovos de ouro', porque há anos que não se fazem novas licitações, prospeções e, com isso, a produção tende a cair até pela quantidade das reservas e idade de alguns poços", acrescenta.

Diz mesmo ser inconcebível "que um dos maiores produtores africanos tenha de importar quase todo o produto refinado", uma das críticas apontadas por João Lourenço na posse da nova administração da Sonangol, que passa a ser liderada por Carlos Saturnino.

"Tratou-se, portanto, de uma medida de gestão, pura e dura, que algumas forças, apanhadas sem argumentação, procuram agora atirar para um alegado conflito político entre o Presidente da República e o líder do MPLA, fomentando um forçado braço de ferro e pseudo divisões no partido no poder", escreve o diretor do Jornal de Angola, no seu editorial.

Isabel dos Santos despediu-se da Sonangol na quinta-feira e no dia seguinte esteve em Luanda a inaugurar a sua nova fábrica de cerveja, regressando assim à vida empresarial, o que para Victor Silva prova "haver vida para além do Estado".