Questionado pela Lusa sobre a posição de Marcelo Rebelo de Sousa, o embaixador recusou-se a falar em nome de Moçambique por ainda “aguardar instruções” do Governo, mas, a título pessoal, manifestou “forte apoio” às declarações do Presidente português.

“Significa que ele está consciente da justeza e da justiça nas relações internacionais, mesmo em relação ao passado. (…) Assumir uma posição de reparação, de condenação do passado, é o correto a fazer”, defendeu o diplomata numa conferência de imprensa na sede da ONU, em Nova Iorque.

“E não devemos filosofar em torno dessa questão. O colonialismo foi um erro. A escravidão foi um erro e falar contra esses males, falar – nem digo fazer -, é uma coisa muito positiva de se fazer”, acrescentou Pedro Comissário Afonso.

Novamente questionado pela Lusa sobre se espera alguma medida concreta da parte de Portugal acerca da possibilidade de reparações, o embaixador negou, advogando que reconhecer os erros do passado “já é uma medida de reparação”.

“Não, eu não [espero medidas concretas]. (…) Dizer que o passado foi errado já é uma medida de reparação. Mas se pudermos ir além disso, sim, seria ainda melhor”, afirmou.

Pedro Comissário Afonso admitiu ainda “gostar” do Presidente de Portugal e enalteceu a sua “atitude corajosa”, especialmente porque o ”pai de Marcelo Rebelo de Sousa foi governador colonial em Moçambique”.

O embaixador moçambicano referia-se ao facto de Baltazar Leite Rebelo de Sousa, pai de Marcelo Rebelo de Sousa, ter sido nomeado governador-geral de Moçambique em 1968, cargo que ocupou durante cerca de dois anos.

“Portanto, há muita coragem em dizer que o colonialismo e a escravidão foram um erro. Então, encorajamos todos os portugueses a fazerem o mesmo”, concluiu o diplomata, que também já serviu como embaixador de Moçambique em Portugal.

Na semana passada, durante um jantar com correspondentes estrangeiros em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa causou polémica ao sugerir o pagamento de reparações pelos erros do passado, ao reconhecer responsabilidades de Portugal por crimes cometidos durante a era colonial.

“Temos de pagar os custos. Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isto”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, citado pela agência Reuters.

Já na terça-feira, numa visita a Cabo Verde e após duras críticas, Marcelo Rebelo de Sousa disse que as reparações às ex-colónias já estão a ser feitas através da cooperação portuguesa “em crescendo” com esses países.