Em causa, segundo uma análise política da jornalista Alicia López, da agência noticiosa espanhola EFE, está a possibilidade de os cinco deputados do Podemos terem agora as mãos completamente livres para votar o que quiserem e exercer a sua autonomia sem quaisquer restrições.

Com um executivo assente numa maioria muito precária, os cinco votos do Podemos, com Ione Belarra à cabeça, são tão decisivos como os dos partidos pró-independência ou nacionalistas para poderem fazer passar qualquer iniciativa.

Contudo, tanto o Somar como os socialistas do PSOE minimizaram a importância desta decisão radical.

O partido de Yolanda Díaz (Somar) não vê qualquer diferença entre estarem fora ou dentro do seu grupo, devido às divergências que se arrastam há meses.

De facto, a decisão tomada hoje pelo partido tem estado na sua mente desde o verão, na sequência da decisão de vetar a ex-ministra da Igualdade Irene Montero das listas eleitorais para as legislativas de 23 de julho, depois retirá-los da liderança do grupo parlamentar e “expulsá-los do governo” por ordem de Sánchez, segundo o Podemos.

A gota de água foi o facto de, hoje, não terem permitido no Parlamento que Belarra falasse em nome do Somar na presença do ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel Albares, tal como tinha pedido.

Os socialistas, porém, também não veem qualquer problema de maior com a rutura do Podemos com o PSOE, porque a maioria governamental continua a ser a mesma, e o único inconveniente é que agora têm de negociar com mais um partido, o que é precisamente outra das exigências de Belarra: ter uma ligação direta com os socialistas.

O grupo Misto, que só tinha três deputados (um do BNG, um da Coalición Canaria e um da UPN), foi apanhado de surpresa por esta decisão, embora tenha passado pela cabeça em algum momento que tal poderia acontecer devido à tensão crescente entre os dois partidos.

Para começar, sendo a maioria e devido aos precedentes que existem no Congresso, o Podemos pode de alguma forma ter o controlo do grupo, e o que é claro é que agora terão a voz que não tinham no Somar.

Também terão mais dinheiro, já que cada grupo parlamentar tem um subsídio fixo de 30.346,72 euros por mês (agora dividido por oito em vez de 31) mais um outro variável mensal de 1.746,16 euros.

No entanto, o Podemos afirma que o benefício económico não foi determinante e que o facto de terem sido constantemente despromovidos no grupo foi um fator determinante.

O Podemos, que tinha 69 deputados quando concorreu pela primeira vez às eleições legislativas de 20 de dezembro de 2015, acaba agora no Grupo Misto com cinco deputados.