“Eles já são mesmo os nossos melhores amigos e, com a situação da Rússia [pela invasão da Ucrânia] e da China, temos mesmo de olhar com mais atenção para a América Latina”, afirmaram fontes diplomáticas à Lusa, a antever aquele o semestre espanhol na liderança da UE, até final do ano.

Depois de oito anos sem reuniões de alto nível, realiza-se a 17 e 18 de julho em Bruxelas a cimeira da UE com a CELAC, que juntará os 27 líderes dos Estados-membros europeus e dos 33 países da América Latina e Caribe, além dos presidentes das instituições europeias.

Para Madrid, a cimeira será, além do “maior evento” da presidência espanhola, uma “janela de oportunidade” para todos os países, principalmente da América Latina, com destaque para o maior país da região, o Brasil, dada a mudança na Presidência brasileira e a sua maior abertura ao mundo e à Europa.

Depois de vários meses de contactos espanhóis com a CELAC, a expectativa é mesmo que o Presidente do Brasil, Lula da Silva, esteja presente nesta cimeira de julho, segundo fontes diplomáticas espanholas, que destacam que na ocasião será firmada “uma declaração conjunta” que terá “uma referência” ao acordo da UE-Mercosul, o Mercado Comum do Sul, formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

“Não participar nesta cimeira seria perder uma oportunidade”, apontam as mesmas fontes à Lusa, manifestando a ambição de Espanha - e de Portugal - de avançar então na conclusão do acordo UE-Mercosul, que abrange 25% da economia global e 780 milhões de pessoas, quase 10% da população do mundo.

O acordo comercial foi estabelecido pelas partes em 2019, altura em que foram concluídas as negociações, mas a sua ratificação está paralisada por causa das reservas ambientais e também por receios comerciais de países europeus.

“Se depender de nós, avançaremos o máximo possível, mas queremos pelo menos dar um impulso forte”, salientam as fontes diplomáticas espanholas.

No seu todo, a região da América Latina e Caraíbas é responsável por mais de 50% da biodiversidade do planeta, representando também 14% da produção mundial de alimentos e 45% do comércio agroalimentar internacional líquido. É ainda uma potência para energias renováveis, com as fontes alternativas a serem responsáveis por cerca de 60% do cabaz energético da região.

Madrid quer usar este potencial para a UE desenvolver os seus “interesses na região em termos de matérias críticas”, como metais de terras raras ou magnésio, relativamente aos quais o bloco comunitário depende hoje em dia da China.

Numa presidência muito focada nas relações da UE com o exterior, a ideia de Espanha é que a Europa continue “aberta ao mundo, mas tendo autonomia estratégica”.

Por essa razão, a questão das dependências de países terceiros será o tema principal da cimeira informal de 06 de outubro, em Granada, num “debate geopolítico” sobre esta matéria, indicaram à Lusa as fontes diplomáticas espanholas.

A anteceder esse Conselho Europeu informal estará uma reunião da Comunidade Política Europeia, no dia anterior, que será antes focada no eventual alargamento do bloco comunitário e nas “ambições dos países que querem estar dentro”, revelam as fontes diplomáticas espanholas.

Ainda no plano internacional, além da América Latina, o Mediterrâneo é outra área de influência de Madrid neste semestre europeu, já que a capital estará focada no reforço da cooperação com os países do sul, como do Magrebe, numa relação que “é complexa e complicada, mas que é o caminho a seguir” nomeadamente para gestão das migrações.

Espanha assume a presidência da UE no segundo semestre de 2023, de 01 de julho a 31 de dezembro, num período de grandes desafios para os Estados-membros e para a União no seu conjunto.