Felwine Sarr é professor de Economia, na Universidade Gaston Berger, em Saint-Louis, no Senegal, músico, escritor, autor de várias obras de ficção, e redigiu, com a historiadora francesa Bénédicte Savoy, do Collège de France, o denominado "Relatório Sarr-Savoy" (2018), sobre a restituição a países africanos de bens culturais, em museus e coleções franceses, apresentado em novembro de 2018, ao Presidente Emmanuel Macron.
Sarr falou hoje em Lisboa, na Culturgest, sobre “A restituição da herança cultural africana", no âmbito do projeto Afro-Port, e referiu que esta restituição tem “implicações políticas, simbólicas, semânticas e filosóficas”.
O professor universitário defendeu a devolução dos objetos, pois estes “são arquivos de criatividade e de práticas, e, simultaneamente, permitem a reapropriação de uma memória que foi cortada pela violenta colonização”.
De acordo com Sarr, deste modo, o processo de restituição pode ajudar também a resolver o “trauma colonial”.
Esta restituição permitirá, argumentou, “repensar estas heranças e as contribuições para um futuro mais amplo e a uma criatividade política”.
“Estes objetos são importantes para pensarmos um outro futuro, com trocas de uma outra forma relacional identitária, de ser e estar no mundo que nos permita um maior interconhecimento”, argumentou.
O investigador a artista senegalês abordou igualmente a questão da “apropriação simbólica e das reparações” que permitem que estas peças -- detentoras elas próprias de vários sentidos --, deixem "ver além do que tem sido a contradição africana à epistemologia semântica simbólica do mundo”.
O catedrático senegalês argumentou que há que ultrapassar “muitas das amnésias e hiatos que existem na nossa história [da humanidade], e esta restituição serve também para repensar e socializar estes artefactos”, abordando assim a questão da “autorreinvenção”, o processo de pensar quem somos.
Aquilo que vemos como objetos, não o são apenas, são também sujeitos porque transmitem uma história, “têm um espaço de vida”, argumentou Felwine Sarr. Portanto “não são objetos eternos, permitem-nos pensar diferentes ligações”.
A palestra contou também com a participação de Paula Meneses, da Universidade de Coimbra.
No início da sua comunicação, Felwine Sarr lembrou “a importância da arte africana para os pintores avant-garde”, nomeadamente Pablo Picasso.
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