“Estou aqui numa campanha de aprendizagem, porque Moçambique e os seus parceiros em toda a SADC, e também com alguns dos outros parceiros africanos, tem tido muito sucesso, especialmente em Cabo Delgado. E estamos a aprender com isso, com meios muito eficazes, e estamos muito impressionados. E foi sobre isso que trataram as discussões com o Presidente”, explicou o general norte-americano, após reunir-se com o chefe de Estado, em Maputo.

De acordo com o comandante do Africom, o encontro com o Presidente, Filipe Nyusi, serviu para discutir o apoio norte-americano à criação de “capacidade operacional” em Moçambique no combate ao terrorismo, “principalmente” através da componente de formação, mas também no fornecimento de equipamento.

“Não vou entrar em detalhes sobre o que o Presidente pediu, mas sei que, primeiro, provavelmente, será em termos de uniformes. Portanto, ajuda não letal neste momento”, explicou Michael Langley, após a reunião com o chefe de Estado moçambicano.

O general acrescentou que o fornecimento de equipamento às Forças de Segurança e Defesa (FDS) de Moçambique dependerá das negociações que serão feitas logo após o “pedido formal” que o Governo terá de apresentar.

“Portanto, não há programação para esse fornecimento, neste momento”, reconheceu.

Insistiu na prioridade que o Governo norte-americano está a dar a um plano de “incremento da parceria” com Moçambique e para “aumentar a capacidade” local.

“Começa com treino, mas vai progredindo para o possível. O que podemos fazer é ajudar a equipar”, apontou ainda, recordando que nos últimos anos o Africom já tem desenvolvido programas de apoio às Forças Armadas de Moçambique, que terão continuidade.

A província de Cabo Delgado enfrenta há quase seis anos a insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novos ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.

O conflito no norte de Moçambique já fez um milhão de deslocados, de acordo com Alto Comissariado das Nações Unidas para pós Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

O grupo extremista Estado Islâmico reclamou na semana passada a autoria de um ataque à base Kathupa, interior do distrito de Macomia, província moçambicana de Cabo Delgado, afirmando que foram mortos 10 militares das FDS de Moçambique.

O ataque, em 08 de agosto, foi reivindicado através de um comunicado divulgado pela agência Amaq, do grupo fundamentalista, referindo que outros sete soldados das FDS ficaram feridos, e que incluía uma fotografia de vítimas e material apreendido, cuja autenticidade não foi possível atestar.

As autoridades moçambicanas não confirmaram até agora a ocorrência deste incidente.

Tratou-se, aparentemente, de uma tentativa de recuperar aquela base, capturada aos terroristas pelas FDS desde o ano passado.

O Presidente da República moçambicana afirmou em 10 de agosto passado que as FDS expulsaram os terroristas de todos os distritos que ocupavam na província de Cabo Delgado, norte do país.

“As nossas Forças de Defesa e Segurança, também assistidas pela força local, continuam a perseguir sem tréguas os terroristas, tendo-os desalojado de todos os distritos que até 2021 ocupavam”, afirmou Filipe Nyusi, em Maputo, numa receção ao homólogo queniano, William Ruto, em visita de Estado ao país.

“Prosseguem os esforços de luta contra os terroristas que atacam alguns distritos da província de Cabo Delgado, conjugando a cooperação multilateral e a bilateral, da SADC, através da SAMIM [Missão Militar da África Austral], e do Ruanda, respetivamente”, detalhou o Presidente moçambicano.