“Por nossa vontade [a lei] não teria sido aprovada. Foi aprovada e julgo que este ciclo estará encerrado” com a promulgação por parte do Presidente da República, disse Paulo Raimundo, em declarações à agência Lusa.

O líder comunista, que falava após a sessão pública “Mais força aos trabalhadores”, organizada pelo PCP, em Alcácer do Sal, no distrito de Setúbal, afirmou que o partido “votou contra” esta lei e, por isso, “não é com satisfação” que “vê o diploma aprovado”.

Instado a comentar a confirmação por parte do parlamento do decreto sobre a morte medicamente assistida, Paulo Raimundo sublinhou que a posição do PCP “é contrária”, por existirem “justos receios” sobre “aspetos de futuro.

“Mas cá estaremos atentos para verificar”, disse.

Questionado pela Lusa sobre os receios dos comunistas com a aprovação desta lei, o secretário-geral do PCP considerou que há “uma porta que se abre”.

“Por um lado é o papel do Estado em garantir as condições para que as pessoas possam viver e não o Estado tomar o papel de instrumento. Isso agora tem aquelas limitações todas que estão identificadas na lei e está a porta aberta”, concluiu.

Durante a sessão pública, o líder comunista voltou a criticar as injustiças, desigualdades, baixos salários, problemas de acesso ao Serviço Nacional de Saúde, aos serviços públicos, precariedade, salários e pensões baixas.

“É isto que marca a vida das pessoas. Não são as tricas, não são as conversas, não são os 'fait-divers' nem aquilo que abre todos os dias os telejornais ou dá várias manchetes nos jornais. Há uma brutal e até perigosa diferença entre aquilo que é a vida mediática da vida concreta das pessoas”, considerou.

No entanto, e para não fugir “aos escândalos”, Paulo Raimundo, quis deixar alguns recados ao Governo, aos grandes grupos económicos e à banca.

“Falemos do escândalo e do caso da brutal injustiça e desigualdade em que vivemos todos, o escândalo da falta de médicos, de enfermeiros, o escândalo das 170 mil pessoas que, desde janeiro até agora, terem ficado sem médico de família, que contrasta com esse escândalo dos senhores da Bolsa de Valores terem encaixado nos seus bolsos 620 milhões de euros em dividendos”, frisou.

Paulo Raimundo apontou ainda baterias aos lucros da EDP de “306 milhões de euros” nos “primeiros três meses” do ano e ao aumento “do gás natural, acima dos 60%” para a Galp ter “mais 250 milhões de euros de lucro” no mesmo período.

“E o que dizer do casinho e do caso da subida das taxas de juro das prestações e das rendas e, ao mesmo tempo, a banca nacional a ganhar 9,5 vezes mais do que a banca do resto da Europa”, questionou.

Na sessão, o líder comunista criticou ainda a taxação extraordinária dos lucros “anunciada com muita propaganda” pelo Governo que deixou “uma parte significativa das empresas de fora da medida” e “aquelas poucas que sobraram” a “pagar migalhas face ao lucro que obtiveram”.