"O principal problema do rio Tejo está relacionado com a falta de água. É um facto que as alterações climáticas explicam uma parte da água que acaba por não chegar a Portugal, mas também não podemos esquecer o resto, as inúmeras captações para uso doméstico, uso industrial, os próprios transvases que acontecem no troço superior do rio Tejo", afirmou o cientista.

Bernardo Quintella, que se deslocou a Vila Velha de Ródão, no distrito de Castelo Branco, para participar no II Seminário Transfronteiriço sobre o Desenvolvimento das Comunidades Ribeirinhas do rio Tejo, reforçou a ideia de que se tem desviado a água do Tejo para outros usos e tem-se esquecido que o rio precisa de cumprir a sua função ecológica.

"Parece que estamos mais preocupados em perceber se temos a água para produzir eletricidade e para regar os nossos campos agrícolas, que são coisas essenciais, mas também devemos estar preocupados se temos água suficiente para os peixes migradores subirem o rio para se reproduzirem", frisou.

Sublinhou ainda que o rio Tejo não é apenas português, pelo que, logo à partida, qualquer problema que tenha que ser resolvido tem que o ser por ambas as partes, ou seja, Portugal e Espanha.

Bernardo Quintella disse ainda que a presença de todas as entidades e associações em Vila Velha de Ródão é para evitar a "morte" do rio.

"Estamos aqui para que isso não aconteça. Achamos que ainda é possível inverter as coisas. Sabemos como é que é possível resolver alguns desses problemas", afirmou.

O cientista do MARE defende que a força se ganha com o conhecimento e realçou a necessidade de se saber o que se passa com o rio Tejo.

"É preciso monitorizar. é preciso dizer exatamente qual é a quantidade de água que é precisa, não só para abastecimento público, industrial e para produzir energia, mas também para que a lampreia marinha continue a migrar ao longo do rio, para que seja possível pescar algumas das espécies que existem. E isso é possível saber", concluiu.

Durante a sua intervenção na primeira mesa redonda do seminário, o cientista fez um ponto da situação do rio e disse que, em sua opinião, Espanha está a cumprir os acordos com Portugal sobre o Tejo.

"Talvez o acordo tenha sido mal negociado, não só ao nível da quantidade [água], mas também da forma como ela chega [a Portugal]", afirmou.

Este responsável deixou ainda alguns dados relativos ao rio Tejo e adiantou que nos últimos 100 anos o rio perdeu 76% de 'habitats', sobretudo, por causa das barragens ou de açudes.

Confraria Ibérica do Tejo diz que política de transvases “não é aceitável”

A Confraria Ibérica do Tejo (CIT) defendeu hoje que a políticas de transvases no rio Tejo "não é aceitável" e que os problemas que afetam o rio devem ser encarados como um problema europeu.

"Há necessidade de rever algo que não está bem, por exemplo a politica dos transvases, que não é aceitável. O Tejo tal e qual como está nos dois países [Portugal e Espanha] necessita de uma intervenção que vai além das intervenções governamentais ibéricas, porque o Tejo é um rio europeu. Este problema deve ser encarado como um problema europeu", afirmou João Serrano.

Apesar dos problemas que afetam o rio, João Serrano mostrou-se otimista, mas defendeu que o Tejo necessita de acompanhamento e de atenção para que sejam encontradas formas de, em conjunto, resolver os problemas que o afetam.

"O que está a acontecer hoje aqui em Vila Velha de Ródão revela a vontade de fazer em parceria. Estamos disponíveis para ajudar e colaborar. Temos recolhidas 41 propostas de investimento para três áreas, economia, ambiente e cultura e todas elas são complementares. Estão cá as entidades que podem olhar para estas propostas e dizer que vale a pena", frisou.

O responsável da CIT, entidade organizadora do seminário, explicou ainda que vão apresentar uma carta de intenções para recuperar o rio Tejo, sendo que o documento será levado à Assembleia da República, ao Presidente da República e ao Governo.

Vai ser também entregue na embaixada de Espanha em Portugal e ao presidente do Governo espanhol, sendo que o objetivo passa também por apresentá-lo ao Parlamento Europeu e ao presidente da Comissão Europeia.

"O Tejo é um problema que tem que ser visto no contexto da União Europeia, em relação aos rios. Este é um problema europeu e o que aqui está [no Tejo] não pode ser resolvido com boas intenções e boas vontades politicas dos dois governos [português e espanhol], exige investimentos muito pesados", sustentou.

João Serrano entende que os mecanismos europeus têm que funcionar em relação aos dois governos ibéricos, para que sejam encontradas formas práticas para resolver os problemas do rio Tejo que, de outra maneira, considera não ser possível resolver.