Esta posição, segundo fontes socialistas, foi defendida por Ferro Rodrigues perante a Comissão Nacional do PS, que decorre no Parque das Nações, em Lisboa, durante a qual, para já, não sinalizou apoio a qualquer um dos candidatos à sucessão de António Costa na liderança dos socialistas.

A intervenção de Ferro Rodrigues centrou-se na questão da justiça e fez uma referência ao processo Casa Pia, quando então liderava o PS, dizendo que “já viu este filme há 20 anos”.

“O meu último combate, o combate da minha vida, vai ser pela democracia”, declarou o antigo secretário-geral do PS, num discurso em que criticou a atuação do poder judicial no processo que conduziu à demissão de António Costa do cargo de primeiro-ministro na semana passada.

No seu discurso, a que a agência Lusa teve acesso, Ferro Rodrigues elogiou o primeiro-ministro e considerou que o seu Governo de maioria absoluta “foi destruído por atos e omissões da Procuradoria-Geral da Republica (PGR) e do Supremo Tribunal de Justiça, pelo menos”.

“Não foi por força das oposições, seus argumentos ou gritos. Não foi por défice de vontade ou de empenhamento da tua parte. Não foi devido à situação social, económica ou financeira do nosso país, nem sequer foi por causa de sondagens. Esta crise, a mais grave da nossa democracia, quase no cinquentenário, foi originada por um comunicado irresponsável, ou consciente dos efeitos que produziria, ou então analfabeto de responsabilidade da PGR, referindo o Supremo Tribunal de Justiça”, declarou.

Ferro Rodrigues deixou uma nota crítica a António Costa, observando que “nem sempre soube rodear-se por pessoas irrepreensíveis para o cumprimento do programa que o parlamento”.

“O PS também tem de aprender com isso. É certo que em alguns momentos te deixaste guiar mais pela emoção que pela frieza da razão”, declarou ainda.

No entanto, para o ex-presidente do parlamento, “exige-se que os mesmos que levaram à demissão de António Costa, com toda a urgência, o ilibem de quaisquer responsabilidades”.

“Os mesmos que, além de derrubarem um Governo democrático, contribuíram decisivamente para a dissolução de um parlamento com maioria, que assegurava estabilidade em tempos tão imprevisíveis e graves - tempos de guerras, tempos de perigo da extrema-direita, tempos terríveis”, disse.

Ferro Rodrigues afirmou saber que a orientação do PS é não falar sobre justiça, mas avisou que não seguirá essa orientação, “porque há que pedir responsabilidades, porque não é admissível que perante tão grave crise a voz da PGR seja a do sindicato, porque não é compreensível o silêncio do presidente do Supremo Tribunal de Justiça”.

“E porque vi e vivi um filme parecido há 20 anos”, completou.

Dirigindo-se aos membros da Comissão Nacional do PS, declarou: “Quero dedicar a última fase da minha vida política a, modestamente, defender a causa das causas: A Democracia”.

Já o presidente do PS, Carlos César, deixou alguns reparos à atuação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerando que aceitou a atual situação “sem pestanejar”. Uma alusão aos atos do chefe de Estado que conduziram à sua decisão de convocar eleições legislativas antecipadas para 10 de março.

Carlos César, também membro do Conselho de Estado, referiu-se ao processo de sucessão de António Costa no cargo de secretário-geral do PS, cujas eleições deverão ser marcadas para os dias 15 e 16 de dezembro, dizendo que, na atual conjuntura política, se impõe a “unidade” entre os socialistas.

(artigo atualizado às 14:46)