No anúncio, feito no passado dia 20, Maduro declarou que o dia de hoje e a sexta-feira, 01 de março, seriam considerados dias de feriado nacional para prolongar a festa que caracterizou como “cultural”.

Nicolás Maduro anunciou ainda o pagamento de um bónus económico aos venezuelanos titulares do cartão da pátria, promovido pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, o partido do Governo).

O cartão da pátria foi criado no início de 2017 para melhorar a distribuição de alimentos à população através das comissões de abastecimento e produção (CLAP).

A antecipação do Carnaval coincide com a crise humanitária na Venezuela, marcada desde sábado com a deserção de 411 militares e polícias, segundo noticiou a agência noticiosa espanhola EFE, que cita fontes oficiais colombianas.

Vários militares e polícias venezuelanos começaram a desertar a partir de dia 23 de fevereiro (sábado), quando um grupo de voluntários tentou entrar no país a partir da Colômbia e do Brasil, com ajuda humanitária reunida por uma coligação internacional que procura aliviar a crise existente na Venezuela.

Parlamento da Venezuela desafia Maduro e declara hoje e sexta-feira dias de trabalho

“Não estamos para festas, não vamos acatar o decreto”, explica o parlamento em comunicado.

O documento sublinha que os bancos privados e alguns setores que se caracterizavam por celebrar as festas de Carnaval estão a suspender a realização de iniciativas devido à crise política e económica no país.

Por outro lado, três organizações empresariais do país chamaram os funcionários para trabalhar toda esta semana, inclusive hoje e na sexta-feira, dias que Nicolás Maduro declarou feriado nacional, antecipando o Carnaval.

A decisão foi tomada pela pela Federação de Câmaras de Comércio da Venezuela (Fedecâmaras), o Conselho Nacional de Comércio e Serviços (Consecomércio) e a Câmara do Porto Livre de Nova Esparta (CPLNE).

“Assim como os últimos aumentos salariais ainda não foram publicados na Gazeta Oficial [equivalente ao Diário da República], tão-pouco foi este período [de Carnaval] prolongado. Isto significa que não é obrigatório e depende de cada trabalhador e cada empregador”, explicou o presidente da Fedecâmaras, Carlos Larrazábal, aos jornalistas.

Já a presidente de Consecomércio, Maria Carolina Uzcátegui, sublinhou ser “lamentável” que o Governo venezuelano imponha feriados, quando as pessoas precisam de trabalhar mais para poder alimentar as famílias, porque o salário é insuficiente e a inflação sobe a cada dia.

“É lamentável que se procurem mais feriados, quando o que as pessoas querem e a Venezuela necessita é trabalhar e produzir. Para sair da crise é preciso que todos se esforcem, [o que] não se consegue com mais dias livres”, frisou.

Segundo o presidente da CPLNE, Teodoro Bellorín, “deixar de trabalhar, nestes dias não tem sentido”, apelando aos comerciantes a não paralisar as atividades.

Vários comerciantes contactados pela agência Lusa questionaram a antecipação do Carnaval, porque “não faz sentido parar”, quando “o país precisa de estar em movimento”.

Outras pessoas explicaram ter dificuldades financeiras até para comprar alimentos básicos para casa e que festejar o Carnaval “só criaria mais dificuldades”.

A Assembleia Nacional da Venezuela, maioritariamente da oposição, desafiou a antecipação do Carnaval anunciada pelo Presidente do país, Nicolás Maduro, declarando que hoje e sexta-feira são dias de trabalho.

A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.

Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.

A repressão dos protestos antigovernamentais desde 23 de janeiro provocou já dezenas de mortos, de acordo com várias organizações não-governamentais.

Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou cerca de 3,4 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados da ONU.

Em 2016, a população da Venezuela era de aproximadamente 31,7 milhões de habitantes e no país residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.