“A comunidade internacional tem de fazer duas coisas muito importantes: primeiro é preciso libertar as mulheres que ainda estão presas pelo [grupo extremista] Estado Islâmico e depois é preciso tomar ações concretas para que o caso dos yazidis seja reconhecido internacionalmente como um caso de genocídio, até porque não é a primeira vez que isto acontece", disse à Lusa Fareeda Khalaf, 22 anos, que participa nas Conferências do Estoril.

Para a jovem yazidi, minoria étnica e religiosa da zona de Mossul, norte do Iraque, os “criminosos responsáveis" por manter as mulheres como escravas sexuais e que estão a “matar o povo” devem ser julgados por um tribunal internacional que deve apurar, também, quais são as fontes de financiamento do EI.

“Mais importante que lutar no terreno contra os homens do Estado Islâmico é combater esta ‘ideologia’. Há gente, e eu não sei quem, que financia as ideias do Estado Islâmico e se não se lutar contra os financiadores, daqui a alguns anos, eles voltam a aparecer sob outro nome. Limitar o combate aos membros do ISIS (sigla também utilizada para designar o grupo extremista Estado Islâmico) que estão no terreno não é suficiente”, sublinhou.

Fareeda Khalaf que relatou os abusos a que foi sujeita pelo EI no livro “The Girl Who Beats ISIS” recordou perante os conferencistas reunidos no Estoril o cativeiro a que foi sujeita em 2014, a escravatura sexual as torturas e o momento em que conseguiu escapar.

“É sempre difícil contar a minha história. Sinto que ainda estou em cativeiro quando tenho de falar sobre mim. O meu pai sempre me disse que eu tenho de ser forte e, por outro lado, tenho a obrigação de difundir a mensagem. Penso sempre nas outras mulheres e raparigas que continuam presas e isso dá-me forças porque não estou a lutar apenas por mim mas também pelas outras mulheres”, explicou.

Fareeda Khalaf frisa a total falta de “segurança e proteção” do povo yazidi que atualmente está refugiado no estrangeiro ou que se encontra na situação de deslocado interno em território iraquiano.

Khalaf vive presentemente na Alemanha com o estatuto de refugiada mas alerta que muitos yazidis encontram-se ainda nos campos da Turquia e da Grécia em situação “muito precária” e que “deviam” ser acolhidos como refugiados nos restantes países da União Europeia.

“Às vezes penso voltar, mas o Iraque é impossível para os yazidis porque não temos proteção. A minha gente só pode voltar quando for protegida, um dia. No futuro”, disse, acrescentando que vai continuar a manter contactos com governos e organizações a nível internacional para conseguir reunir apoio para “um povo massacrado”.

“Eu sou vítima e testemunha de crimes e muitas outras raparigas também são testemunhas e a comunidade internacional deve apoiar-nos a provar que estamos a ser vítimas de genocídio”, frisou.

Atualmente calcula-se que existam 700 mil yazidis em todo o mundo, sendo que 500 mil habitavam as montanhas de Sinjar, na província de Mossul, no Curdistão iraquiano onde decorrem combates entre o EI e as tropas iraquianas apoiadas pelos Estados Unidos.

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