Apesar dos gatos conquistarem cada vez mais lares portugueses, segundo dados do estudo TGI da Marktest, publicado em 2015, o número de gatos de rua continua a crescer. A falta de controlo das populações de gatos errantes e outros animais coloca a saúde pública e o meio ambiente em risco. Municípios, associações e outros voluntários procuram melhorar a situação, mas não é fácil.

De acordo com a legislação, cabe às câmaras municipais proceder ao controlo das populações de animais errantes, promover a correção das situações que possibilitam a subsistência de animais em lugares públicos, bem como o cumprimento da lei em vigor que determina que em cada casa não podem ser acolhidos mais do que quatro gatos.

Gatos errantes: os pequenos selvagens que se alastram na urbe

O progama CER (Captura, Esterilização e Recolocação) tem sido uma aposta por parte dos municípios. Segundo o site da Câmara Municipal de Lisboa, "a captura de animais e a sua occisão (morte) não são a maneira mais eficaz de lidar com o excesso de gatos vadios, pois não tem qualquer efeito na origem do problema: o excesso de produção de animais."

Conforme o site, a captura é uma solução temporária. "Reduz-se temporariamente a população de gatos errantes num determinado local, o que aumenta as probabilidades de sobrevivência dos restantes e encoraja a migração de outros para essas “zonas limpas", lê-se.

Gatos errantes: os pequenos selvagens que se alastram na urbe

Embora acredite que a esterilização seja o melhor caminho para controlar as colónias de gatos, Cristina Oliveira, vice-presidente da associação "Onde há gato não há rato", sente que falta uma estratégia "concertada", a nível nacional, capaz de dar uma resposta eficaz.

Reconhecendo que, nos últimos anos, o número de programas destinados a controlar a superpopulação de animais na rua tem vindo a aumentar, a vice-presidente explica que o empenho dos municípios nesta questão varia, e que parte do trabalho é deixado nas mãos de associações e grupos informais com poucos recursos.

Gatos errantes: os pequenos selvagens que se alastram na urbe

"Por esse motivo, pode afirmar-se que a população de animais domésticos na rua ainda cresce descontroladamente, algo agravado pelo elevado número de abandonos que a conjuntura nacional dos últimos anos veio favorecer", acrescenta.

Para Cristina, o "descontrolo" que se verifica, relacionado a este problema, liga-se ao facto de não existirem números oficiais relativos a estas populações de animais ou à sua evolução.  

Animal prolífico

Gatos errantes: os pequenos selvagens que se alastram na urbe

Mas existem alguns indicadores. Continuam a haver gatos a serem abandonados. E basta um casal de gatos para que, em sete anos, existam 400.000. Conforme Cristina Oliveira, "um ou alguns gatos numa determinada área (por exemplo, nas traseiras de um prédio), tendem a multiplicar-se rapidamente", dado que as gatas podem ter várias ninhadas por ano, a partir dos cinco, seis meses de idade e que uma ninhada tem entre três a seis gatinhos.

As situações de superpopulação de gatos ocorrem mais nas áreas urbanas. "Nas zonas rurais, pouco habitadas, os animais têm uma área de circulação muito maior (na qual se incluem não só as áreas terrestres, mas também as árvores, muros e telhados). Aqui o gato tende a ser um animal bastante discreto. Nas cidades, pelo contrário, a escassez de espaços verdes, baldios e selvagens tende a resultar na aproximação dos gatos a áreas residenciais e na sua concentração em zonas ricas em alimento e abrigo", explica Cristina. 

Onde há gato não há rato

Gatos errantes: os pequenos selvagens que se alastram na urbe

A associação "Onde há gato não há rato" nasceu em 2013. Começou a sua ação como grupo informal, esterilizando gatos de rua, e, hoje, conta com cerca de 20 voluntários.

Os voluntários trabalham diretamente com os gatos e procuram dar resposta aos muitos contactos que recebem, que passa pela divulgação de animais para adoção.

O trabalho é feito dentro do tempo livre de cada voluntário. "Uma vez que a disponibilidade de cada um varia, é necessário um esforço de coordenação e colaboração para garantir que tudo o que é essencial é cumprido. O trabalho dos voluntários é coordenado pela direção da associação, que define e avalia as estratégias de atuação", clarifica Cristina.

Combate à superpopulação, não aos gatos de rua

Gatos errantes: os pequenos selvagens que se alastram na urbe

Para a associação, os "gatos de rua" - assilvestrados - não devem desaperecer. "A nossa intervenção com a esterilização destina-se a combater, não a população de gatos de rua, mas a sua sobrepopulação", declara Cristina.

"É importante não esquecer que, para além de ficar fofinho no sofá, o gato existe também na sua forma assilvestrada, vivendo de modo independente e desconfiando dos humanos", salienta. "São os gatos esquivos, que nos observam de longe e fogem a qualquer movimento. Estes gatos existem por todas as cidades, vilas e aldeias e são uma parte importante da fauna urbana, desempenhando um papel relevante, nomeadamente no controlo de pragas", explica.
 
Já o excesso de gatos em determinadas zonas tende a causar queixas diversas por parte da vizinhança. Cristina destaca, entre as queixas mais comuns, o barulho, especialmente nas épocas de cio das gatas, a invasão de propriedade privada (gatos que urinam, defecam ou escavam no jardim/quintal de alguém) e a agressão a gatos com dono.

Cristina ainda alerta para os perigos que os gatos estão expostos na cidade, que considera serem maiores do que no campo. A vice-presidente chama a atenção para o tráfego rodoviário, do qual resultam inúmeras mortes todos os anos, recordando que a formação de grandes grupos de gatos favorece o desenvolvimento de doenças contagiosas entre os animais, "que causam grande sofrimento". Segundo a mesma, algumas das doenças comuns onde existe uma grande concentração de gatos, tendem a ser raras em pequenos grupos.