A entrega área de ajuda, com paraquedas, “é sempre o último recurso se perguntarmos a algum colega (da ONU) que trabalhe com logística, porque é muito, muito caro e não sustentável”, disse hoje o chefe de gabinete do OCHA na Palestina Ocupada, Andrea De Domenico, numa conferência de imprensa em Nova Iorque, na qual participou por videochamada.

Em causa está um pedido feito hoje pelo primeiro-ministro do Estado da Palestina, Mohammed Shtayyeh, que solicitou à ONU e à União Europeia que “lancem ajuda” a partir do ar na Faixa de Gaza para apoiar os civis bloqueados devido à guerra entre Israel e o Hamas.

“A realidade é que existem maneiras de levar a assistência, se as partes chegarem a um acordo sobre um acesso desimpedido e contínuo. Portanto, penso que o primeiro ponto de entrada deveria ser insistir na abertura das travessias [de fronteira] e garantir que os abastecimentos são sustentados, em vez de pensar em cenários extremos”, defendeu Domenico.

O chefe de gabinete disse estar ciente que a Jordânia já avançou com essa abordagem, com o lançamento de ajuda através de aeronaves, mas salientou que “as quantidades são limitadas” e que, logisticamente, “é muito, muito desafiador”.

De acordo com o OCHA, 76 camiões atravessaram Gaza vindos do Egito no domingo, elevando para 981 o número de camiões que entraram no território palestiniano desde 21 de outubro.

Esta ajuda humanitária é considerada muito insuficiente para os cerca de 2,4 milhões de habitantes, 1,6 milhões dos quais foram deslocados desde o início da guerra, que estão mergulhados numa situação catastrófica, segundo as Nações Unidas.

Cerca de 500 camiões de ajuda humanitária entravam diariamente em Gaza antes da guerra entre Israel e o Hamas, segundo dados da ONU.

Domenico explicou ainda que, a partir de terça-feira, as equipas das Nações Unidas no enclave não poderão descarregar os camiões porque não têm combustível para operar a maquinaria necessária para esse processo ou para transportar esses carregamentos até aos locais onde estão os necessitados.

O chefe de gabinete do OCHA na Palestina Ocupada lembrou ainda que a comunicação com o enclave poderá ser totalmente cortada na quinta-feira, após o anúncio feito pelo serviço de telecomunicações palestiniano Paltel de que será forçado a encerrar completamente o serviço por falta de combustível.

Domenico disse ainda que não há lugares seguros em Gaza e que recebeu relatos de várias detenções de pessoas, nomeadamente de homens, que tentaram deslocar-se do norte para o sul do enclave, área que, supostamente, seria mais segura para os civis palestinianos.

O porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, definiu hoje a situação na Faixa de Gaza como “extremamente terrível” e observou que tudo “está a acontecer à vista de todos”.

“Precisamos de acesso ao nosso combustível para levá-lo às instalações da ONU, às centrais de dessalinização, às clínicas de saúde… Não deveríamos ter de negociar o combustível”, sublinhou.

Todos os escritórios da ONU ao redor do mundo fizeram na manhã de hoje um minuto de silêncio pelos mais de cem funcionários das Nações Unidas que perderam a vida em Gaza.

Na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, a bandeira da ONU foi colocada a meia haste como parte da homenagem a esses funcionários que morreram no enclave.