No dia em que o Presidente da República fala ao país às 20:00 depois de ter discordado da decisão do primeiro-ministro de manter João Galamba como ministro das Infraestruturas, a atual crise política chegou às declarações políticas no parlamento, tendo PCP e BE escolhido como tema a situação política.

O primeiro a falar foi o PCP, que pela voz da líder parlamentar, Paula Santos, referiu que “não têm faltado demissões, episódios mais ou menos rocambolescos, elementos contraditórios, empolados por uma crescente mediatização, que propositadamente remete para segundo plano os problemas do dia a dia” dos portugueses, ressalvando que “a situação é grave e não deve ser desvalorizada”.

“Enquanto andam animadamente entretidos, com o que poderá acontecer nos próximos capítulos desta longa telenovela, no final do dia os trabalhadores e os reformados estão preocupados se o salário e a pensão dão até ao fim do mês, se conseguem pôr comida na mesa e comprar os medicamentos, se conseguem suportar o custo com a habitação”, criticou.

Para Paula Santos, “o que o PS prometeu com a tão desejada maioria absoluta não se está a concretizar” uma vez que “cresce a instabilidade e a incerteza da vida das pessoas, as desigualdades e as injustiças”.

Já o BE, pela voz de Mariana Mortágua, defendeu que “os últimos dias foram muito mais que um enorme embaraço nacional” e que o país se envergonhou “com a atuação irresponsável dos mais altos cargos da nação”, sendo esta declaração política “um alerta sobre os riscos deixados em aberto nestes dias, que vão muito além do risco do ridículo, que já não é pequeno”.

“A banalidade da mentira, a negligência do poder absoluto e a política de palácio estão a apodrecer um país a braços com problemas sociais reais e sérios. No deserto das inevitabilidades, do poucochinho, do passinho menor que a perna, só sobrevive o pior de nós”, alertou.

Para a bloquista, “a mentira como método, a sua banalidade, corrói a democracia”, acusando o primeiro-ministro se ser responsável por esta corrosão “ao amnistiar toda a mentira”.

Sobre “o risco da política de palácio”, da qual diz ser “filho” este Governo de António Costa, Mariana Mortágua defendeu que foi esta política “concertada entre Governo e Presidente” que “engendrou o bloqueio de negociações à esquerda e que tomou o voto orçamental como pretexto bastante para dissolver o parlamento”.

“Tudo em nome da estabilidade - ou do sonho de maioria absoluta de António Costa. Eis aqui a maioria absoluta de António Costa. A estabilidade também está à vista”, condenou, considerando que António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa “tropeçam um no outro em jogos de pressão, alheios à realidade de um país a braços com um empobrecimento galopante”.