Em conferência de imprensa em Pristina, Kurti declarou que as medidas punitivas da UE devem ser retiradas antes de novas eleições em quatro municípios do norte do Kosovo, de maioria sérvia, e cuja convocação constitui uma das exigências da UE.

O primeiro-ministro, proveniente de uma formação conotada com a esquerda nacionalista albanesa kosovar, assegurou que o seu Governo está envolvido na preparação das novas eleições e na diminuição da tensão, mas não revelou qualquer medida concreta.

Devido à persistência das tensões no norte do território, incluindo a presença de forças especiais de polícia enviadas por Pristina, a UE congelou em junho diversos fundos europeus para o Kosovo, ente outras medidas.

As tensões agravaram-se em finais de maio devido à recusa dos sérvios kosovares em aceitarem presidentes de câmara da maioria albanesa kosovar nos quatro municípios do norte (Leposavic, Mitrovica Norte, Zubin Potok e Zvecan) habitados por sérvios, que boicotaram as eleições de abril passado e iniciaram protestos diários frente aos edifícios camarários.

A UE exige que os munícipes albaneses, eleitos por cerca de 3% dos eleitores inscritos, exerçam os seus cargos noutros edifícios até à realização de novas eleições, que deverão registar a participação incondicional da população sérvia local.

Bruxelas também exige a retirada das forças especiais da polícia kosovar e o fim dos protestos sérvios.

Em 12 de julho o Governo kosovar comprometeu-se a concretizar medidas para não agravar a situação e anunciou uma redução em 25% da presença da polícia especial no interior e nas imediações das câmaras municipais.

A Sérvia assegura que Kurti não pretende diminuir a tensão nem promover novas eleições no norte do Kosovo, e denuncia crescentes intimidações e discriminação dos sérvios locais por parte das autoridades de Pristina.

Os sérvios do Kosovo permanecem fiéis a Belgrado, em particular no norte onde são maioritários, e insistem na formação de uma associação de municípios sérvios na sequência do acordo de Bruxelas de 2013, que Pristina recusa aplicar.

Belgrado nunca reconheceu a secessão unilateral do Kosovo — a sua antiga província do sul e considerada o berço da sua nacionalidade e religião — proclamada em fevereiro de 2008 na sequência de uma guerra iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.

Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,7 milhões de habitantes, na larga maioria (perto de 90%) de etnia albanesa e religião muçulmana.

O Kosovo independente foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.

A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil, África do Sul ou Indonésia) também não reconheceram a independência do Kosovo.

Os dois países negoceiam a normalização das relações assente num novo plano da UE, apoiado pelos Estados Unidos, com o seu roteiro acordado por Belgrado e Pristina em março passado, mas que o atual aumento da tensão se arrisca a comprometer em definitivo.