Cerca de 700 manifestantes reuniram-se em frente à sede da empresa ferroviária Hellenic Train, em Atenas, para expressar indignação, após a pior catástrofe ferroviária da história grega.

Em Tessalónica, segunda maior cidade da Grécia, foram mais de 2.000 manifestantes, alguns dos quais lançaram pedras e bombas incendiárias. Segundo um porta-voz da polícia, a situação normalizou-se pouco depois.

O acidente ocorreu na noite de terça-feira, perto da cidade de Larissa, e deixou 57 mortos, segundo um balanço policial divulgado hoje. "É possível que haja alguém no comboio que ainda não tenha sido declarado desaparecido", disse a porta-voz da polícia Constantia Dimoglidou.

As autoridades decretaram três dias de luto nacional. O porta-voz do governo, Yiannis Economou, prometeu uma investigação sobre "os atrasos na execução de trabalhos ferroviários provocados pelas deficiências crónicas do setor público e décadas de fracassos".

Em Atenas, os manifestantes fizeram um minuto de silêncio em memória das vítimas. As manifestações coincidiram com uma greve de 24 horas convocada pela federação dos sindicatos do setor. Os trabalhadores denunciam a "falta de respeito" com o setor por parte de sucessivos governos, a que atribuem "esse resultado trágico".

Falha humana

O primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis disse ontem que o acidente será investigado a fundo. Apontado como responsável pela tragédia, o diretor da estação ferroviária de Larissa foi detido e acusado de homicídio por negligência e lesão corporal, depois das autoridades  terem atribuído “falha humana” às causas do acidente. O homem de 59 anos pode ser condenado a prisão perpétua pelo acidente, que ocorreu à meia-noite de terça-feira.

O funcionário, que estava em serviço no momento do acidente, terá de explicar como um comboio de passageiros e um de carga circularam por vários quilômetros na mesma via, mas em sentidos opostos.

Cinco anos depois da privatização da empresa ferroviária Hellenic Train, que foi vendida para o grupo italiano Ferrovie dello Statto (FS), os sistemas de segurança ainda não foram automatizados.

O ministro dos Transportes pediu demissão horas depois do acidente. Os sindicatos ferroviários afirmam que as falhas na linha que liga Atenas a Tessalonica são conhecidas há anos.

Um porta-voz do corpo de bombeiros disse à AFP que as equipas de resgate trabalharam durante toda a noite em busca de sobreviventes. "O comboio estava cheio de estudantes, de jovens na casa dos 20 anos", declarou Costas Bargiotas, médico do hospital de Larissa. "É realmente impactante ver as carruagens esmagadas, como se fossem de papel", acrescentou.

A carruagem-restaurante incendiou-se e a temperatura no seu interior chegou a 1.300ºC, segundo os bombeiros.

"Ninguém me pôde informar se minha filha estava ferida, na UTI, nada", lamentou a mãe de uma estudante de 23 anos que viajava no comboio. Juntamente com o marido, ela fez um teste de DNA para saber se o corpo da filha estava entre os carbonizados ou esmagados. "Não teremos respostas rápidas", avisaram os médicos.