“Não paramos [a luta], não paramos, não paramos, não paramos”, “Governo escuta, professores estão em luta”, “O tempo é para contar, não é para roubar” ou “Os professores exigem respeito” eram algumas das frases proferidas pelas dezenas de professores que se concentraram, hoje, à frente da Escola de Canelas, em Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto.

A iniciativa marcou o início da nova ronda de greves distritais convocada pela plataforma de nove sindicatos que inclui a Federação Nacional dos Professores (FENPROF), Federação Nacional da Educação (FNE).

Na ocasião, o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, declarou aos jornalistas que a luta é para continuar e admitiu que os sindicatos estão a desenhar um plano de luta para o próximo ano letivo caso não se chegue a acordo com o Governo.

“Já começámos a discutir como é que abriríamos o próximo ano letivo, porque depois de (…) toda a luta que foi desenvolvida, se nós agora, pura e simplesmente, decidíssemos desistir, acabar, era deitar fora esse capital de luta que está acumulado”, disse.

Para o sindicalista, “o Ministério da Educação sabe que os professores estão a lutar por razões justas. A opinião pública portuguesa, a população de uma forma geral têm acompanhado esta luta dos professores e isso é muito importante e portanto os professores vão continuar a sua luta, porque consideram que os alunos nas nossas escolas têm o direito a ter professores profissionalizados. Têm o direito a ter professores que promovam um ensino de qualidade”.

“Se estes problemas da profissão e a sua desvalorização não forem resolvidos, o que nós vamos ter, é falta de professores, que pode, em alguns casos, ser disfarçada pela substituição dos professores por outros diplomados que não são professores, mas essa não pode ser a solução. Nós precisamos de professores nas escolas”, alertou.

Segundo Mário Nogueira, o Governo e o Ministério da Educação "não desistem de desvalorizar a profissão de professor", nem de " desrespeitar os professores em direitos fundamentais", tais como a contagem do tempo de serviço, que trabalharam para efeitos de carreira, ou a nível de regime de concursos que foi aprovado pelo executivo.

"Esperamos que o senhor Presidente da República não promulgue [o regime de concursos], permitindo que ele volte novamente à mesa negocial, para corrigir as tais linhas vermelhas", apelou.

Segundo o sindicalista, neste momento a negociação que os professores esperavam era que o Governo "apresentasse uma proposta para recuperar o tempo de serviço de uma forma faseada",

"Os sindicatos, as nove organizações, propuseram que até ao final da legislatura, com abertura para alargar esse prazo, haja um faseamento que recupere o tempo que os professores trabalharam e, simultaneamente, acabar com as vagas que impedem a progressão a dois escalões da carreira", explicou Mário Nogueira, lamentando que o Governo tenha apresentado em março e confirmado em abril que "não queria recuperar um único dia daqueles que os professores ainda têm congelados”.

Mário Nogueira classificou o regime de concursos do governo como sendo “discriminatório”, “injusto” e “excludente” e reafirmou que os professores não desistem, nem vão parar de lutar, prometendo fazer greve às “avaliações finais e para o ano e sempre”.

“Não paramos enquanto não houver respeito pela profissão”.

Várias dezenas de alunos também se concentraram hoje à frente da Escola Básica e Secundária de Canelas e vários pais que vieram buscar os filhos que ficaram sem aulas.

Em declarações à Lusa, as alunas Matilde Pereira, Sofia Sampaio e Beatriz Peixoto, a frequentar o 11.º ano na área de Humanidades naquele estabelecimento de ensino, contam que ficaram sem as aulas de inglês e de educação física hoje por causa da greve.

Questionadas sobre se concordam que a luta dos professores, dizem em uníssono que sim, mas que também sentem que estão a ser prejudicadas para a preparação para os exames que vão ter no final do ano letivo.

“Por um lado acho correto que lutem pelos seus direitos, mas para os alunos que vão ter exames é prejudicial para o estudo”, declaram as estudantes.

A greve dos professores por distritos vai decorrer entre hoje, 17 de abril, e 12 de maio, percorrendo, pelo meio, todos os distritos do país por ordem alfabética inversa (de Viseu a Aveiro), prevendo-se que cada dia de luta comece às 12:00, sem que tenham sido decretados serviços mínimos.

Em vez de haver um pré-aviso de greve para os 18 dias úteis, cada uma das nove organizações apresenta um pré-aviso para cada um dos dias de luta.

Hoje no Porto, pelas 15:00 está agendada uma concentração na Praça D. João I, no coração da baixa da cidade.

Além da Fenprof e da FNE, a plataforma de sindicatos inclui a Associação Sindical de Professores Licenciados (APSL), Pró-Ordem dos Professores (PRÓ-ORDEM), Sindicato dos Educadores e Professores Licenciados (SEPLEU), Sindicato Nacional dos Profissionais de Educação (SINAPE), Sindicato Nacional e Democrático dos Professores (SINDEP), Sindicato Independente dos Professores e Educadores (SIPE) e Sindicato Nacional dos Professores Licenciados pelos Politécnicos e Universidades (SPLIU).