Israel voltou a bombardear vários pontos do território palestiniano, segundo as autoridades do movimento islamista Hamas, em particular a Cidade de Gaza, no norte, Khan Yunis e Rafah, no sul.

"O início do Ramadão está coberto de escuridão, com gosto a sangue e fedor por toda parte", disse à AFP Awni al Kayyal, um deslocado de 50 anos em Rafah.

"Acordei na minha barraca e chorei pelo nosso destino. De repente, ouvi explosões e bombardeamentos. Vi ambulâncias a levar mortos e feridos", disse ele, acrescentando que a sua família "não terá comida na mesa" depois da quebra do jejum na noite de segunda-feira.

Para tentar aliviar a crise humanitária em Gaza, um primeiro navio fretado pela ONG espanhola Open Arms e carregado com 200 toneladas de mantimentos, está pronto para zarpar do Chipre para Gaza, no âmbito de um corredor marítimo anunciado pela União Europeia.

Alguns habitantes reuniram-se numa praia no sul da Cidade de Gaza no domingo na esperança de ver o navio chegar. "Disseram que chegaria um navio carregado de ajuda e que as pessoas poderiam comer", disse um deles, Mohamed Abu Baid, à AFP. "Só Deus sabe. Não acreditaremos até vermos", acrescentou.

Mas a ONU, que teme a fome generalizada no território palestiniano, submetido por Israel a um cerco total desde 9 de outubro, afirma que o envio de ajuda por via marítima e aérea não pode substituir a ajuda por via terrestre.

A ajuda internacional, controlada por Israel, só chega a Gaza a conta-gotas, enquanto as necessidades são imensas, especialmente no norte do território, de muito difícil acesso.

A guerra eclodiu em 7 de outubro, com o ataque sem precedentes dos comandos do Hamas em solo israelita, no qual morreram cerca de 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados israelitas.

Além disso, cerca de 250 pessoas foram sequestradas e 130 permanecem cativas em Gaza, das quais 31 morreram, segundo as autoridades de Israel.

Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma campanha militar contra o enclave palestiniano. Até agora, o conflito deixou 31.112 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

Os bombardeamentos deixaram 67 mortos nas últimas 24 horas, anunciou o Ministério nesta segunda-feira, incluindo quatro pessoas da mesma família que morreram num ataque à sua casa durante as orações matinais em Rafah.

O Exército anunciou que 15 combatentes islamistas morreram no domingo em operações no centro de Gaza. As operações de busca "seletivas" também tiveram como alvo casas usadas para "atividades terroristas" no bairro de Hamad, em Khan Yunis.

Apesar de uma nova ronda de discussões no Egito no início de março, os Estados Unidos, o Qatar e o Egito – os três países mediadores – não conseguiram chegar a acordo sobre um cessar-fogo.

Uma fonte próxima das negociações disse à AFP no domingo que haverá uma "aceleração dos esforços diplomáticos nos próximos dez dias".

O Hamas exige um cessar-fogo definitivo e a retirada das tropas israelitas antes de qualquer acordo sobre a libertação dos reféns detidos em Gaza.

Israel exige que o movimento islamista forneça uma lista dos reféns que ainda estão vivos, mas o Hamas afirmou que não sabe quem entre eles está "vivo ou morto".

Em Washington, o presidente americano Joe Biden, que elevou o tom nos últimos dias com Israel, disse que o Ramadão "chega num momento de imensa dor".

"Quando os muçulmanos se reunirem em todo o mundo nos próximos dias e semanas para quebrar o jejum, muitos estarão muito conscientes do sofrimento do povo palestiniano. Eu também estou", disse ele.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou a sua "solidariedade e apoio a todos aqueles que sofrem com os horrores em Gaza".

"Nestes tempos difíceis, o espírito do Ramadão é um farol de esperança, uma lembrança da nossa humanidade compartilhada", escreveu ele na rede social X.