Em comunicado divulgado hoje, António Guterres destacou o “papel-chave” desempenhado pela Minusma, “velando pelo respeito do cessar-fogo, no quadro do acordo de paz e reconciliação de 2015”, firmado entre o regime no poder em Bamaco e grupos rebeldes do Norte do país.

Guterres prestou “homenagem aos 311 funcionários da Minusma que perderam a vida e aos mais de 700 feridos ao serviço da paz ao longo dos dez anos de destacamento” no Mali, em resultado sobretudo de ataques levados a cabo por grupos afiliados das organizações terroristas Al-Qaida e Estado Islâmico.

A Minusma foi mobilizada para o Mali em 2013, no contexto da propagação do radicalismo islâmico que ameaçava a estabilidade do país, mas as Nações Unidas sempre ressalvaram que o seu papel não passava por combater os grupos extremistas, mas apenas assegurar o respeito pelo acordo de paz e ajudar as autoridades de Bamaco a estabilizarem a região Centro, outrora um foco de violência, e proteger os civis e os direitos humanos.

Em junho, Abdoulaye Diop, chefe da diplomacia do regime militar que tomou o poder, pela força, em 2020, exigiu, perante o Conselho de Segurança, a retirada “sem demora” da missão das Nações Unidas.

O responsável decretou “o fracasso” da Minusma e considerou que a missão não era a solução, mas “parte do problema”.

A Minusma não podia permanecer no país contra a vontade das autoridades malianas e o Conselho de Segurança pôs fim ao seu mandato, fixando o 31 de dezembro como prazo limite para a retirada.

Durante a vigência da Minusma, a violência alastrou-se aos vizinhos do Burkina Faso e do Níger, causando milhares de mortos, civis e combatentes, e a deslocação forçada de milhões de pessoas.

Nos últimos anos, a Minusma — que chegou a ter cerca de 15 mil polícias e soldados, oriundos de dezenas de países — foi a missão das Nações Unidas mais duramente afetada por ataques mortíferos.

Ainda assim, a missão foi sendo alvo de críticas por parte da sociedade maliana, denunciando a sua incapacidade para debelar a crise instalada no país.

Segundo Guterres, concluída a fase de retirada, hoje, na segunda-feira começará o “período de liquidação”, que passa por entregar às autoridades malianas os últimos equipamentos e pôr fim aos contratos ainda existentes.

Durante esse período, “uma equipa reduzida” das Nações Unidas e “os últimos” soldados e polícias dos países contribuidores permanecerão nas regiões de Gao (Norte) e Bamaco, para supervisionar o transporte de bens da missão.