Eram 12h00 quando nos deslocámos  para o Campo da Graça de automóvel. Nessa altura, já um mar de peregrinos enchia a Avenida Infante Dom Henrique no caminho do Parque das Nações. Vinham de todos os lados, de todas as ruas, como se Lisboa fosse o Império Romano e o Parque Tejo fosse Roma.

Ao chegarmos, após estarmos parados cerca de uma hora Infante Dom Henrique, já estavam milhares de pessoas nas colinas do Campo da Graça, tantas que era difícil ao olho humano ver o fim, e que continuava a aumentar com o passar das horas. O calor não retirava energia a ninguém.

Existem várias portas no Parque Tejo que dão acesso aos diferentes setores, todas elas tinham filas para entrar, onde muitos peregrinos e voluntários nos revelaram mais tarde que esperaram horas. Nas ruas de acesso ao parque, a poucas horas da chegada do Papa, que só chegaria perto das 21h00, ainda estava uma multidão nas ruas que continuava a dirigir-se lentamente para o Parque Tejo, como uma corrente de pessoas que nunca mais acabava. Se chegaram todos a entrar? É impossível saber, mas a mancha humana será certamente algo que Lisboa não verá muito mais vezes.

Pela tarde fora, centenas de autocarros descarregaram peregrinos que se dirigiam lentamente para os seus setores que ao longo da tarde não pararam de ficar cada vez mais cheios apesar do calor.

Quando chegou o Papa, a Santa Sé avançou que os números previstos de um milhão e 500 mil pessoas no Parque Tejo esta noite se confirmavam, sendo que a maioria se espera que irá dormir esta noite no recinto.

Entre os peregrinos que estavam na linha da frente do palco está a Inês, de 18 anos, que veio de Fátima, mais precisamente de Santa Catarina da Serra, integrada num grupo de 500 peregrinos que para conseguirem o lugar quase em frente ao altar-palco sairão do local onde estavam alojados às 9h00 da manhã. Depois de chegarem aos portões do Parque Tejo, ficaram ainda cerca de duas horas à espera antes de entrar, podendo apenas sentar-se no local onde a encontramos às 12h00.

"Estamos a derreter e vamos ficar aqui toda a noite e amanhã durante a missa. Ficar lá fora a esperar duas horas não foi muito agradável, mas temos de perceber que são muitas pessoas e temos de entender o lado dos voluntários", disse. O caminho de duas horas foi feito a pé desde a Bobadela, mas "é muito amor ao Papa".

15 quilómetros para ver o Papa

Mesmo ao lado está o Thomas, um australiano também de 18 anos, que veio com um grupo de jovens da sua Igreja local com cerca de 50 pessoas. Sairam da Austrália no dia 29 de julho e chegaram no dia 30, depois de 31 horas de uma viagem que passou pelo Qatar, Espanha e finalmente Portugal.

Esta é a primeira vez que vai ver o Papa e conseguir um lugar na fila da frente não foi fácil. "Tivemos um grupo de pessoas que nos está a reservar o lugar desde as 7h00 da manhã e depois disso alguns chegaram de Uber e outros vieram a pé. Eu andei 15 quilómetros para ver o Papa", destaca.

Conta também que não havia comida no sítio onde entrou, mas entrar foi fácil. Sobre o calor diz que é um alívio estar em Portugal porque neste momento, apesar das altas temperaturas características do seu país, é inverno na Austrália e as férias em aqui foram ótimas para o grupo.

"Este ano temos dois verões. Temos algumas pessoas que estão um bocadinho afetadas com o calor, mas todos estão felizes e hidratados. Aliás, a organização da JMJ é espetacular, estão sempre a rir e a perguntar se queremos alguma coisa, sinto-me abençoado por estar aqui", acrescentou.

Um pouco mais distante do palco, mas na linha da frente encontramos o sul-coreano, Tae Young Jung, que veio com um grupo de 32 peregrinos.

Depois de nos dizer que estava comovido por tudo o que tinha vivido nestes dias, comentou os rumores de que a JMJ eventualmente poderá vir a ser no seu país.

"A Coreia não é um país muito católico, apenas 10% da população acredita em Deus e por isso se a JMJ for na Coreia vai ser um evento muito diferente das organizações feitas na Europa. Apesar disso, ficaria muito emocionado porque seria muito importante para a comunidade católica no meu país, porque todos poderiam ver como a fé católica está a crescer na Ásia", disse.

Sobre a organização de um futuro evento, diz que se algum dia uma JMJ acontecesse em Seul seria um caos porque a capital é já em si muito caótica, mas com a ajuda do governo tudo seria possível. "Existem cerca de 160 coreanos na JMJ, fizemos 17 horas de voo, isso já significa que a fé é importante para nós", apontou.

Quando falou connosco por volta da 16h00, tinha chegado àquele lugar na fila da frente há apenas uma hora. "Vamos ver o Papa pela primeira vez, ontem estivemos na Via Sacra, mas o nosso lugar era péssimo e agora vamos mesmo puder olhar para ele", terminou.

Mais perto ainda do palco estavam Laura e Viviana, duas voluntárias vindas da Colômbia, com 29 e 33 anos respetivamente, e que destacaram que "ver a Igreja do mundo inteiro unida é uma coisa linda. Somos uma só Igreja e um só Deus em comunhão com o Papa é espetacular".

Estavam no Campo da Graça desde as 8h00 da manhã para a distribuição da comida dos peregrinos, quando terminaram passaram a pasta a outros voluntários e ocuparam um lugar na fila da frente. Estão num grupo de seis pessoas, mas sabem que da Colômbia vieram centenas para a JMJ. Sobre a organização, dizem que "estão todos sempre dispostos a ajudar-nos e a orientar-nos, mas este é um evento imensamente grande e falhas acontecem sempre, nem tudo pode ser perfeito na vida, foi tudo feito com muito amor e adoramos muito Portugal".

Sobre o calor que muitos sentiram no Parque Tejo, dizem que estavam era com medo do frio da noite, porque desde que chegaram a Portugal estão sempre cheias de frio durante essa parte do dia que é muito diferente do seu país.

Mesmo ao lado do palco, do lado esquerdo, encontramos também um grupo de estudantes, todas mulheres dos Estados Unidos, mais precisamente de Nova Iorque. De acordo com uma das responsáveis, Rosaly, chegaram a Lisboa no dia 2 de agosto, depois de terem feito o Caminho de Santiago.

São 158 no grupo e esta é a segunda vez que vêem o Papa na JMJ. Sobre a organização diz que "está tudo perfeito, foi muito especial e é uma dádiva estar aqui. Portugal é lindo".

"Hoje chegámos eram 10 da manhã, e vamos ficar aqui toda a noite, mas a ideia dos jovens viverem fora deles próprios é muito importante, arriscar fazer coisas diferentes e é isso que o Papa quer", acrescentou.

Sobre aguentar o calor, diz que está um dia mau, mas "queremos estar aqui para o Papa". Andaram pouco comparado o Caminho de Santiago, mas de qualquer forma tiveram de apanhar um autocarro desde a Costa da Caparica e depois andar, o que levou o seu tempo.

Convite para área reservada ganho no jogo de pedra, papel ou tesoura

O último grupo que encontramos, estava dentro da área reservada a convites especiais, todos peregrinos japoneses e com uma particularidade especial, o convite para ter acesso a uma das cadeiras foi ganho com um jogo de pedra, papel ou tesoura, num desafio proposto por outro peregrino que perdeu o jogo.

A nossa entrevistada foi a jovem Yoshimi Saito, de 18 anos, que faz parte de um grupo de 200 pessoas. Já estão em Portugal desde 27 de julho e ficaram numa casa em Coimbra. A Lisboa chegaram no dia 1 de agosto e ainda vão rumar ao Porto amanhã no fim da Jornada.

Yoshimi contou-nos que nunca tinha visto tantos católicos porque "no Japão apenas 1% da população é católica, e quando se fala de jovens ainda são menos, por isso esta é uma oportunidade de estar com pessoas que acreditam no mesmo que eu, e isso é uma felicidade muito grande".

Já viram o Papa um bocadinho no papamóvel, mas esta é a primeira vez que o vão ver de perto e num lugar sentado, ao contrário dos restantes peregrinos que na sua maioria estão longe e na relva. O grupo estava alojado a cerca de três horas do altar-palco e andaram todo o caminho, "mas tudo vale a pena pelo Papa". Além disso, demoraram cerca de 30 minutos a entrar no recinto, porém, segundo a Yoshimi "temos mais sorte que todos os outros porque aqui é muito mais fácil entrar. Ainda bem que ganhámos o jogo!".