“O Haiti afirma mais uma vez que a situação é urgente. A família da ONU não pode continuar a rejeitar o pedido de um dos seus Estados-membros que enfrenta graves desafios de segurança, políticos, socioeconómicos e humanitários”, afirmou Jean Victor Geneus, numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, na quinta-feira.

O Governo haitiano “é flexível e está aberto a todos”, desde que ajudem a resolver de forma duradoura a grave crise “que diariamente leva luto” ao país, disse.

“O Governo deseja um amplo consenso no Conselho de Segurança para um projeto de resolução sobre o caso do Haiti. O Conselho compreende perfeitamente que esta situação é inédita e catastrófica para o país. O Conselho também entende que precisa de agir. A decisão do Conselho de Segurança, expressa através da adoção de um texto consensual, é aguardada pelo nosso povo”, salientou.

Desde outubro do ano passado que o Governo do Haiti pede a criação de uma força multinacional para auxiliar a polícia local a desmantelar gangues e a restaurar a segurança no país.

Também o secretário-geral da ONU, António Guterres, tem reiterado esses apelos, repetidos na quinta-feira na sede da ONU, em Nova Iorque.

“Port-au-Prince está cercada por grupos armados que bloqueiam estradas, controlam o acesso a alimentos e cuidados de saúde e minam o apoio humanitário. Gangues predatórios estão a usar sequestros e violência sexual como armas para aterrorizar comunidades inteiras”, disse o líder da ONU, que visitou a capital haitiana no fim de semana passado.

O ex-primeiro-ministro português disse ter ouvido relatos perturbadores de mulheres e meninas que foram violadas por grupos armados, bem como de casos em que pessoas foram queimadas vivas.

Nesse sentido, Guterres voltou a apelar aos membros do Conselho de Segurança e a todos os países com potencial de contribuição para que enviem uma força multinacional para ajudar a polícia do Haiti, o país mais pobre do hemisfério ocidental.

“Repito: não estamos a convocar uma missão militar ou política das Nações Unidas. Estamos a pedir uma forte força de segurança enviada pelos Estados-membros para trabalhar lado a lado com a polícia nacional do Haiti, para derrotar e desmantelar gangues e restaurar a segurança em todo o país”, frisou Guterres.

Contudo, apesar dos apelos que se prolongam há meses, nenhuma proposta concreta foi apresentada até ao momento pela comunidade internacional.

Na reunião do Conselho de Segurança, Jean Victor Geneus argumentou que a Carta da ONU “tem as disposições” necessárias para que o país “finalmente alcance o caminho para a paz, segurança e progresso socioeconómico”.

“A ONU, através do Conselho de Segurança, tem uma responsabilidade, a responsabilidade moral, para evitar o naufrágio do Haiti. A ação do Conselho será decisiva”, afirmou o ministro perante o corpo diplomático presente no encontro.

“O Governo reitera o pedido renovado de uma robusta assistência internacional para apoiar os esforços da polícia do Haiti na luta contra os grupos armados”, concluiu.

Mais de 600 pessoas foram mortas no Haiti em abril, numa nova vaga de violência extrema na capital.

Desde o assassínio do Presidente Jovenel Moise em julho de 2021, os gangues no Haiti tornaram-se mais poderosos e violentos.

Em dezembro passado, a ONU estimou que os grupos armados organizados controlavam 60% da capital do país, mas a maioria das pessoas nas ruas de Port-au-Prince afirma que esse número está próximo dos 100%.