Em causa está o primeiro inquérito municipal à violência doméstica e de género, pedido pela Câmara ao Observatório Nacional de Violência e Género da Universidade Nova de Lisboa, no âmbito do qual foram inquiridas, no último semestre de 2016, 2.616 pessoas (1.314 mulheres e 1.302 homens) com mais de 18 anos.

Os resultados revelam que “o tipo de violência de que os homens são vítimas não é exatamente o mesmo de que as mulheres são vítimas”, segundo o coordenador da equipa que fez o estudo, Manuel Lisboa.

Falando aos jornalistas no final da apresentação do documento, nas instalações da Universidade Nova, o especialista indicou que, no caso dos homens, “é uma violência que ocorre fundamentalmente nos espaços públicos e que tem a ver com as relações normais, quotidianas e de trabalho, com o encontro com pessoas desconhecidas ou mesmo com quizílias entre amigos”.

“Eles têm uma maior exposição pública e também uma maior interação com outras pessoas e há uma maior probabilidade que essas interações resultem em violência”, justificou.

No caso das mulheres, trata-se de “uma violência que é mais no espaço privado e este é um espaço em que os autores são fundamentalmente os homens”, disse, relacionando esta realidade com as desigualdades sociais existentes.

“Nos homens, a violência é mais ou por desconhecidos ou então […], quando ocorre em casa, é muito ao nível dos processos de socialização durante a infância, resultante de relações parentais”, apontou Manuel Lisboa.

Nos questionários, feitos porta a porta, foram detetados 51 casos de vítimas – atuais ou no passado –, 61,9% dos quais diziam respeito a homens e 50,3% a mulheres.

No que toca à violência psicológica (que inclui gritos ou ameaças verbais, escritas ou gestuais), registaram-se 25 casos, 84,9% dos quais referentes a mulheres e 56,9% a homens.

Na violência física (abrangendo bofetadas, murros, pontapés, arranhões ou beliscões), verificaram-se 14 casos, com mais expressividade nos homens (41,2%) do que nas mulheres (19,7%).

Atentando na violência sexual (assédio e tentativas de contacto físico com conotação sexual), houve 12 casos, com 29,6% das vítimas mulheres e 26,3% homens.

Relativamente às freguesias, em nove das 24 totais (Santa Maria Maior, Santo António, São Vicente, Avenidas Novas, Benfica, Lumiar, Santa Clara, Olivais e Parque das Nações) os valores da violência contra mulheres são superiores à média do concelho, número que baixa para quatro freguesias (Carnide, Alvalade, Parque das Nações e Beato) quando se fala dos homens.

O inquérito mostra que, em ambos os géneros, há maior vulnerabilidade em situações de crise económica, nomeadamente de desemprego.

Ainda assim, em 62,3% dos casos, as vítimas não denunciam.

Também falando aos jornalistas, o vereador dos Direitos Sociais da Câmara de Lisboa, João Afonso, salientou que a autarquia tem vindo a apostar na prevenção e sensibilização.

Quanto à intervenção, referiu a criação de um centro de atendimento “que junta as várias problemáticas para as quais as pessoas procuram resposta”, funcionando como uma “loja do cidadão”.

Será composto por uma equipa especializada e terá uma linha de atendimento.

Questionado sobre a data de entrada em funcionamento, o autarca apontou o “primeiro semestre de 2018”, caso haja consenso das entidades envolvidas (Câmara, Segurança Social e Santa Casa da Misericórdia).

O estudo custou cerca de 100 mil euros à autarquia.