Foi uma noite longa em Manchester, uma noite que se prolonga num dia marcado pela tristeza, o medo e a consternação. Um alerta para a polícia pouco antes das 10h35 dando conta de uma explosão no Manchester Arena, no final do concerto de Ariana Grande, iniciou uma longa maratona, primeiro em busca de informações concretas, nomeadamente por parte de todos aqueles que tinham alguém no recinto de espectáculos - e eram muitos, o espaço estava cheio e tem capacidade para 21 mil pessoas - e depois em busca de explicações.

Ao longo da madrugada, umas e outras foram surgindo a conta-gotas. A primeira informação oficial da polícia situava em 19 o número de mortos e cerca de 50 o número de feridos. Já de manhã, esta manhã de terça-feira, o número tornou-se mais pesado: 22 mortos e 59 feridos.

Desde que o alerta foi dado que a polícia apelou às pessoas para que não se aproximassem da área da Manchester Arena, já que as várias forças de segurança estavam a tentar perceber com o que lidavam. Não havia reivindicação de autoria do ataque, havia especulação. Uma das especulações acabou por confirmar-se: a explosão foi provocada por um bombista suicida que morreu durante a detonação da bomba de produção artesanal. Ainda não se sabe se agiu sozinho, se pertence a algum grupo, quais as motivações. Já no dia seguinte, surge então a reivindicação do autoproclamado Estado Islâmico.

Desde a primeira hora que nas redes sociais se multiplicaram relatos e atos de solidariedade. Nos primeiros relatos, algumas das pessoas colocavam inclusive como hipótese que o som da explosão - intenso ao ponto de ser ouvido fora do recinto, nomeadamente em prédios vizinhos - pudesse ser parte do espectáculo da cantora americana. Rapidamente se percebeu, ao verem-se os primeiros feridos, que essa não era uma hipótese plausível.

A estação de Victoria Station, junto à Manchester Arena onde decorreu o concerto, foi evacuada e todos comboios cancelados. A National Rail, empresa responsável pelo serviço de transportes, publicou um comunicado em que afirma:"Os serviços de emergência estão a dar resposta a um incidente na Manchester Arena. Como a estação de Victoria está localizada perto do local, foi fechada e todas as linhas encerradas".

A preocupação, a ansiedade e o medo aumentaram à medida que surgiam informações concretas sobre feridos e vítimas mortais. Sentimentos só contrabalançados com uma enorme onda de solidariedade que também se propagou nas ruas e sobretudo nas redes sociais.

Um dos relatos, de Vikki Ryan, dizia "como posso dizer às pessoas que ficaram sem ter para onde ir que os posso acolher durante a noite?". "Twitter", recomendam outros utilizadores.

"Para aqueles que estão com dificuldade em chegar a casa, eu não moro longe e teria todo o gosto em levar-vos onde for necessário, por favor enviem mensagem se for preciso", escreveu Zayd Elfallah ou "estou em Cheetham Hill, se alguém precisar de um sítio para onde ir ou tem família que precisa de um sítio para ficar, esteja à vontade para entrar em contacto. Mais do que disponível para dar a minha morada", publicou Hayley Roberts.

Além de boleias e casas, também houve voluntários a pensar nos feridos. "Sou dadora de sangue, mais do que disponível para doar", escreve Sophia Sykes.

As informações da polícia foram atualizadas às primeiras horas da manhã, mas esperam-se novas informações ao longo do dia. Pouco passava das 10 da manhã, quando a polícia de Manchester publicou na conta de Twitter um pedido para que as pessoas evitem o centro da cidade, uma vez que ainda estão a realizar investigações na zona da explosão - que continua a ser referenciada como incidente terrorista.

O comandante da polícia de Manchester informou em conferência de imprensa, que os 59 feridos estão a ser tratados em oito hospitais diferentes da região e que há crianças entre as vítimas mortais.

Num balanço sobre a investigação feito esta manhã, Ian Hopkins adiantou que a polícia acredita que o responsável pela explosão foi um homem apenas, que “transportava um engenho explosivo improvisado, que ele detonou causando esta atrocidade”. A polícia acredita ainda que o autor do ataque terá morrido na explosão, tratando-se possivelmente de um ataque suicida.

Horas mais tarde, a primeira-ministra Theresa May reiterou estas informações e avançou que a identidade do bombista já será conhecida, sem porém detalhar. A líder do Executivo britânico condenou os ataques e elogiou o trabalho levado a cabo pelas equipas de emergência e outras autoridades, assim como a solidariedade demonstrada por pessoas comuns.

O que se sabe sobre Manchester

As autoridades foram por volta das 22h33 na sequência de relatos de uma explosão.

A capacidade da arena é de 21 mil pessoas e a unidade estava cheia de jovens e adolescentes para assistir ao concerto da cantora americana. Informações avançadas pela própria Manchester Arena indicam que a explosão ocorreu no exterior do recinto.

22 pessoas perderam a vida e 59 ficaram feridas, algumas das quais continuam internadas em estado grave, adiantou Theresa May à imprensa.

As primeiras vítimas já começaram a ser identificadas.

O caso está a ser tratado como um "incidente terrorista", pelo que a polícia está a trabalhar com a unidade de contraterrorismo e os serviços secretos.

A polícia está a unir esforços com autoridades locais e nacionais para ajudar os feridos e suas famílias.

Foi divulgado também um número de emergência para aqueles que procuram informações sobre entres queridos, sendo ele o (0044) 0161 856 9400.

"Uma explosão muito forte"

“Estava na casa de banho quando ouvi uma explosão depois do concerto ter terminado e as pessoas estarem a sair”, disse uma das pessoas presentes citadas pelo The Telegraph. “A explosão fez-se ouvir na entrada do recinto e as pessoas começaram a correr (…) Vi pessoas a correr e a gritar numa direção e muitas começaram depois a correr na direção oposta”.

“Havia muitas pessoas em choque e em pânico. vemos isto nas notícias a toda hora mas nunca pensamos que nos vai acontecer. Eu apenas tive de sair dali e assegurar-me que eu e a minha irmã estávamos bem”.

Outro relato, de Suzy Mitchell, 26 anos, que vive junto ao recinto do espectáculo, disse que a explosão se tinha sentido na vizinhança. “Estava na cama quando ouvi uma grande explosão e do meu apartamento, que é no último andar e tem uma visibilidade total, vi uma multidão de pessoas a sair”. A mesma testemunha acrescentou que muitos serviços de emergência estavam no local.

Outra testemunha citada pelo The Telegraph, Majid Khan, de 22 anos, afirmou: “Eu e a minha irmã, como muitas outras pessoas, tínhamos ido assistir à atuação da Ariana Grande no Manchester Arena, e estávamos a sair do local quando pelas 10h40-10h45 da noite ouvimos uma explosão que parecia como uma bomba e fez toda a gente entrar em pânico e a tentar sair do recinto”.

A cantora Ariana Grande reagiu à tragédia. "Desfeita. Do fundo do meu coração, lamento imenso. Não tenho palavras", escreveu no Twitter.

O mayor da região metropolitana de Liverpool, Steve Rotheram, publicou na sua conta de Twitter o agradecimento à generosidade de vários cidadãos com "perfeitos estranhos". "É mais o que nos une do que o que nos divide", escreveu.

O mesmo responsável, que tinha duas filhas no concerto de Ariana Grande, publicou um tweet anterior em que refere a confirmação de mortes na Manchester Arena. "As minhas duas filhas estavam na Manchester Arena quando a explosão aconteceu. Elas estão, felizmente, bem, mas temo por outros".

O Governo português está desde segunda-feira à noite a acompanhar o caso e até ao momento não tem indicação de portugueses entre as vítimas do ataque, que causou 22 mortos.

Entretanto, a campanha para as legislativas antecipadas no Reino Unido, a 8 de junho, foi suspensa.

[Notícia atualizada às 13h33]