"Há três anos, houve uma alteração que fez com que os projetos de reflorestação ou florestação deixassem de passar pelas autarquias. Passaram a ser projetos centralizados no ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas] e em que o município apenas pode emitir pareceres que não são vinculativos em áreas que ultrapassem os dois hectares. O que assistimos foi à proliferação de novas plantações de eucalipto", disse à agência Lusa o novo presidente da Câmara de Arganil, Luís Paulo Costa (PSD).

O eucalipto, frisou, é necessário para a economia local, mas é importante "compatibilizar com outras espécies para não se ter um barril de pólvora".

Nesse sentido, o autarca defende que o Governo deveria aproveitar o momento em que tudo ardeu para avançar rapidamente com o reordenamento da propriedade e da floresta, em que os municípios devem assumir um papel de maior intervenção.

"Seriam desejáveis algumas decisões relacionadas com a estrutura fundiária, com o emparcelamento florestal ou um regime de banco de terras, que permitisse agregar várias propriedades privadas para conseguir outro tipo de intervenção", defendeu Luís Paulo Costa.

Sobre a necessidade de uma maior presença de espécies autóctones no concelho, o presidente da Câmara de Arganil aponta para o próprio território e para as diferenças de comportamento do fogo no terreno.

Na Margaraça, onde ardeu cerca de 70% da mata nacional, "o comportamento do fogo foi muito diferente do resto da floresta".

"Enquanto na mata foi um fogo rasteiro e que se houvesse meios teria sido possível de o conter, no resto da floresta foram labaredas com alturas de seis, sete ou oito metros", sublinhou, referindo que na Margaraça a progressão do fogo foi "muito mais lenta".

Os factos "demonstram que não podem deixar as coisas conforme estão", asseverou.

Segundo Luís Paulo Costa, as medidas apresentadas pelo Governo para o apoio à reconstrução das habitações e reposição do potencial produtivo e económico estão "no bom caminho" e são "corretas", considerando que é a área da reflorestação que o deixa "apreensivo".