Em Oliveira de Frades, as cerca de 50 empresas da zona industrial afetadas pelos incêndios de 2017 deram “a volta por cima” e nos seus responsáveis surgiram sentimentos de partilha e de solidariedade.

“Nós caímos, mas soubemos levantarmo-nos”, frisou à agência Lusa Salete Costa, porta-voz dos empresários de Oliveira de Frades.

Segundo a empresária, toda a gente que passa pela zona industrial e fala com os empresários diz que se nota que “as pessoas têm perseverança, têm coragem”, o que confirma ser verdade.

“Soubemos dar a volta por cima e tenho a certeza de que vamos ficar melhor equipados, com mais capacidade, com mais resiliência. Saiu-nos do corpo, é um facto, mas vamos ficar melhor, com mais capacidade de sermos bem-sucedidos”, revelou, confiante.

De acordo com Salete Costa, de todos os empresários afetados só um decidiu que não reergueria o seu negócio, mas os “cinco ou seis empregados que ficaram no desemprego arranjaram logo trabalho”, porque há muita falta de mão-de-obra qualificada.

“Nenhuma empresa parou de funcionar. Algumas tiveram de abrandar por motivos logísticos, enquanto se reorganizavam, houve outras em que o trabalho era externo e nunca deixaram de laborar a 100%. Outras ficaram com menor ritmo, mas nunca pararam”, com exceção da que não reabriu, lembrou.

A empresária contou também que “houve empresas que perderam tudo, e tudo é mesmo tudo”, e “tiveram que comprar desde uma caneta ao papel, para se reerguerem completamente do zero” neste último ano.

“Na grande maioria, os clientes e os fornecedores foram compreensivos e, em alguns casos, foram colaborantes”, realçou.

Na sua opinião, a tragédia de 2017 “deu para ver que a parte boa dos negócios também existe”, porque, como os empresários se encontravam todos no mesmo patamar, “olharam uns para os outros de maneira diferente”.

“O sentimento entre todos mudou. Não nos conhecíamos e, é bem verdade, andávamos entretidos na nossa vida. Agora, estamos mais despertos para os outros”, admitiu, acrescentando que se apoiam mutuamente, numa vertente humana que “tem sido muito positiva” e que acredita que “não vai morrer”.

No concelho de Tondela, os incêndios de outubro de 2017 consumiram “centenas de viaturas, uma farmácia, aviários, oficinas, armazéns e unidades industriais”, recordou à Lusa o presidente da Câmara, José António Jesus.

“Só empresas danificadas pelos incêndios de outubro do ano passado, de diferentes dimensões e um pouco por todo o concelho, foram cerca de 70”, frisou.

Também neste concelho foi visível a determinação dos empresários: “na indústria, comércio e serviços, os danos chegaram aos 15 milhões de euros, mas, apesar do período difícil por que todas estas empresas passaram, não temos conhecimento de que alguma tenha entrado em insolvência ou esteja próxima disso”.

Segundo José António Jesus, algumas das empresas “até melhoraram as condições de trabalho ou aumentaram a sua atividade, como foi anunciado pelo grupo Valouro, que brevemente irá proceder à inauguração das novas instalações”.

No que respeita ao setor da agricultura, “mais de 2.700 agricultores apresentaram declarações de prejuízos causados pelos incêndios”, sendo que, destes, 2.300 tiveram apoios por parte do Ministério da Agricultura (a grande maioria de montante inferior a 5.000 euros).

“Estes apoios, manifestamente insuficientes, levaram a uma procura de soluções que permitam que uma atividade fundamental para a manutenção do nosso território não caia em abandono”, referiu.

Na sua opinião, “recuperar as condições de exercício desta atividade é fundamental, tendo sido mobilizadas algumas ações que possibilitem reunir alguns apoios”.

As consequências dos incêndios de há um ano alteraram a agenda das prioridades que tinham sido desenhadas para este novo ciclo político.

“Depois das respostas mais emergentes que esta calamidade impôs, foi necessário concentrar todas as atenções na reconstrução das habitações permanentes atingidas, a par do apoio às indústrias e serviços que também tiveram de instruir as suas candidaturas ao programa Repor”, explicou.

O autarca admitiu que “ainda há muito por fazer, visto que está em curso uma grande empreitada que prevê a reconstrução de 74 habitações, depois de já estarem concluídas algumas dezenas de habitações que sofreram danos inferiores a 25 mil euros”.