"Não tive tempo, nem para rezar", desabafa João Miguel, de 71 anos, sentado à porta da casa, onde as chamas ainda lamberam as paredes laterais.

O incêndio não deixou ninguém descansar, ameaçando a aldeia de Alcongosta desde segunda-feira.

"Tentei salvar o que tinha: foi agarrar na mangueira e regar tudo enquanto houve água", disse à agência Lusa João Miguel, com ar cansado e desalentado, que fala de um incêndio que provocou um "barulho ensurdecedor".

"Estou com o coração nas mãos", diz o habitante, enquanto os familiares convencem-no a ir para o centro da aldeia, por causa do fumo.

A alguns metros de João Miguel, Encarnação Rolão protege-se do fumo com um lenço. Está sentada, depois de horas a tentar defender a casa da filha.

"Chegou mesmo aqui", frisa, apontando para as traseiras da habitação.

Encarnação fala de "uma tristeza", que não sabe quando acaba.

Já o presidente da junta de freguesia de Alcongosta, Miguel Baptista, acredita que, depois do dia de hoje, as chamas já não voltam com a mesma intensidade, "porque ardeu tudo o que tinha para arder".

Na aldeia, "fez-se tudo o que se conseguiu e protegeram-se as casas", conta, garantindo que no perímetro da aldeia a Serra da Gardunha estava limpa.

"Já vi outros fogos, mas nunca um tão violento como o de hoje", sublinha Joaquim Fortunato, de 71 anos, que diz que "a noite foi igual ao dia: sempre com muito medo do pior".

Do cimo da aldeia de Alcongosta, onde o fogo chegou perto das casas, não se vê nada em redor - apenas fumo.

O presidente da Câmara, Paulo Fernandes, viu hoje um descontrolo das chamas que já tinha constatado na segunda-feira ao final do dia, classificando por diversas vezes a situação como "dramática" e apelando constantemente a um reforço de meios.

"É um inferno", vinca.

De acordo com o autarca, as chamas progridem em Vale de Prazeres e em direção ao Alcaide, havendo também uma frente descontrolada em direção, novamente, à sede de freguesia de Souto da Casa.