"Tenho pena que, olhando para os diplomas aprovados na Assembleia da República, encontre tanta diversidade de posições, não há convergência praticamente alargada quanto a todos eles, muda a votação diploma a diploma", disse hoje Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, no final de uma reunião com autarcas afetados pelos incêndios de junho na região centro.

O Presidente da República evidenciou que, se há uma convergência daquilo que há a fazer em termos da reforma florestal entre os especialistas, populações e autarcas, "é preciso ir mais longe e haver uma convergência quanto á floresta nos políticos e nos parceiros económicos e sociais".

"Vamos lá ver se isso é possível", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

O PR admitiu, no entanto, que a convergência de posições "é um processo lento", frisando que os processos culturais "são os mais difíceis".

"Os processos de mentalidade, de convergência nas ideias, são os mais difíceis. Há um momento em que todos estão comovidos, emocionados e chocados. Todos mais ou menos parecem dizer o mesmo. Depois quando se trata de por de pé a solução para o problema, afinal não estavam a pensar no meesmo, estavam a pensar em coisas muito diferentes", evidenciou o chefe de Estado.

"Vamos lá ver se é possível fazer pensar o mesmo um bocadinho mais com o andar dos acontecimentos", reafirmou.

Marcelo Rebelo de Sousa, acompanhado pelo primeiro-ministro, António Costa, deslocou-se hoje aos concelhos de Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande e Castanheira de Pera, os três municípios mais afetados pelos incêndios de junho, que provocaram pelo menos 64 mortos e mais de 200 feridos.

Já o líder do executivo, António Costa, manifestou "muita esperança" que a comissão técnica independente de análise do incêndio de Pedrógão Grande "não se limite a abordar o que aconteceu em Pedrógão Grande, em Castanheira de Pera e em Figueiró dos Vinhos, mas que procure expressar o grande consenso técnico que existe em matéria de reforma florestal".

António Costa disse esperar que esse consenso técnico "permita ajudar a consolidar um consenso político", notando que os sete concelhos afetados pelo incêndio que matou pelo menos 64 pessoas têm formações políticas diferentes, mas que isso não impediu "um consenso absoluto" dos autarcas "sobre aquilo que é necessário fazer" em relação à floresta.

O primeiro-ministro mostrou-se ainda convencido que uma alteração da atual "conjuntura" pode ajudar a alargar o consenso político.

"A conjuntura é a que é e, quando a conjuntura for outra, estou convencido (...) que vai ajudar a que esse consenso político se alargue", vincou o primeiro-ministro, que falava aos jornalistas no final de uma reunião com os presidentes dos municípios afetados pelos incêndios de Pedrógão Grande e de Góis, em Castanheira de Pera.

Para António Costa, "é evidente" que "uma floresta sem donos conhecidos, uma floresta abandonada, uma floresta que não gera rendimento é uma floresta que não fixa populações, que não gera riqueza, que não gera emprego e que potencia o risco" dos incêndios que se têm assistido na região centro e norte do país.

O líder do executivo, que visitou duas aldeias de Pedrógão Grande afetadas pelo incêndio, notou que a natureza "já está a renascer com uma pujança extraordinária nas áreas que arderam".

No entanto, "está a renascer com pujança e de forma selvagem. Ou ordenamos esta floresta e podemos ter uma floresta que pode ser uma fonte de riqueza para o país, para esta região, para as populações que aqui temos; ou, como disse o presidente de Castanheira de Pera, porventura, estaremos aqui daqui a uns anos a lamentar novas tragédias".

A floresta, defendeu, é preciso que seja "acarinhada, mas seja gerida, seja ordenada, seja disciplinada".

Dois grandes incêndios começaram no dia 17 de junho em Pedrógão Grande e Góis, tendo o primeiro provocado, pelo menos, 64 mortos e mais de 200 feridos. Ambos foram extintos só uma semana depois.

Estes fogos terão afetado aproximadamente 500 imóveis, dos quais mais de 200 eram casas de primeira habitação.

Os prejuízos diretos dos incêndios ascendem a 193,3 milhões de euros, estimando-se em 303,5 milhões o investimento em medidas de prevenção e relançamento da economia.

Mais de dois mil operacionais estiveram envolvidos no combate às chamas que consumiram 53 mil hectares de floresta.

O fogo chegou ainda aos distritos de Castelo Branco, através da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra e Penela.

[Notícia atualizada às 22h36]