A Confederação Israelita do Brasil divulgou um comunicado condenando “de forma veemente a defesa da existência de um partido nazista no Brasil e o direito de ser anti-judeu, feita pelo apresentador Monark, do Flow Podcast”.

“O discurso de ódio e a defesa do discurso de ódio trazem consequências terríveis para a humanidade, e o nazismo é sua maior evidência histórica”, acrescentou a confederação.

Já o grupo Judeus pela Democracia frisou em mensagem na rede social Twitter que “ideologias que visam a eliminação de outros têm que ser proibidas” e que “racismo e perseguições a quaisquer identidades não são liberdade de expressão”.

A polémica começou na noite de segunda-feira, quando o ‘podcast’ Flow exibiu uma conversa com dois deputados federais, Kin Kataguiri e Tabata Amaral, na qual o apresentador Bruno Aiub, conhecido como Monark, afirmou que a esquerda teria mais espaço do que a direita na comunicação social enquanto falava sobre o comunismo.

“As duas tinham que ter espaço. Eu sou mais louco que todos vocês. Eu acho que o nazi tinha que ter o partido nazi, reconhecido pela lei", disse Monark.

Rebatido pela deputada Tabata Amaral, que argumentou que o nazismo era balizado num discurso de ódio que coloca toda população judaica em risco, o apresentador defendeu que “se o cara [pessoa] quer ser anti-judeu, ele devia ter o direito de ser”, citando o chamado direito irrestrito de liberdade de expressão que reiteradamente defende no programa.

Na mesma discussão, o deputado Kim Kataguiri argumentou que uma ideologia não deveria ser sido criminalizada e sim “rechaçada pela sociedade”.

Ao ser questionado por Tabata Amaral se concordava com a criminalização do nazismo na Alemanha, Kataguiri afirmou que não.

O Flow é um dos ‘podcasts’ com maior audiência do Brasil e tem 3,6 milhões de inscritos só no YouTube.

As manifestações de Monark, em especial, e também do deputado Kataguiri, geraram uma onda de repudio nas redes sociais com críticas que ultrapassaram grupos da comunidade judaica e incluíram políticos da direita e da esquerda, juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) e outros influenciadores brasileiros.

“Enquanto tem parlamentar defendendo que o nazismo não seja crime, eu apresentei projeto pedindo cadeia para quem defender abominações nazistas e comunistas. Ambas ideologias assassinas são igualmente nefastas e merecem ser totalmente repudiadas pela lei”, escreveu Eduardo Bolsonaro, deputado e filho do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, referindo-se à declaração de Kataguiri.

O ex-juiz e pré-candidato à Presidência do Brasil, Sergio Moro, apoiado por Kataguiri e Movimento Brasil Livre (MBL), afirmou em mensagem no Twiter que “o nazismo é abominável e inaceitável em qualquer circunstância”. “É um crime e uma ofensa ao povo judeu e a toda humanidade. Não há mais lugar no mundo para o ódio e a intolerância”, acrescentou.

“Não existe arrego [expressão usada para desistir ou render-se] para quem defende a criação de um Partido Nazista. O que Monark disse ontem é um crime contra a nossa democracia. Não existe liberdade de expressão para quem defende esse absurdo. É de extrema urgência que esse canalha tenha uma punição severa”, escreveu Gleisi Hoffman, presidente do Partido dos Trabalhadores, também no Twitter.

Gilmar Mendes, juiz do STF, destacou por sua vez que “qualquer apologia ao nazismo é criminosa, execrável e obscena”. E acrescentou: “O discurso do ódio contraria os valores fundantes da democracia constitucional brasileira. Minha solidariedade à comunidade judaica”.

Além das manifestações de repúdio nas redes sociais, patrocinadores do ‘podcast’ anunciaram o cancelamento de contratos por discordarem da defesa de um partido nazi no país.

Vários convidados que já participaram no ‘podcast’ pediram publicamente que os vídeos das suas entrevistas fossem retiradas do ar por discordarem das afirmações de Monark.

O filho do ex-jogador de futebol Zico, que seria entrevistado no programa Flow Sport Club desta semana, anunciou que o seu pai desistiu de participar do ‘podcast’.

A Federação de Futebol do Rio de Janeiro decidiu cancelar o contrato com o canal Flow Sport Club, responsável pela transmissão de parte dos jogos do campeonato regional do Rio de Janeiro.

Com a repercussão negativa, Monark pediu desculpa nas redes sociais, alegando estar bêbado no momento em que defendeu o direito de criação de um partido nazi no Brasil.

A meio da tarde, o ‘podcast’ Flow afirmou oficialmente estar comprometido com os direitos humanos e retirou o episódio em questão do ar.

O ‘podcast’ pediu desculpas à comunidade judaica e anunciou a demissão de Monark.