Em entrevista à agência Lusa, Tiago Duarte, investigador do i3S, explicou que a investigação, que é capa da edição de maio da revista científica 'Nature Metabolism', teve como principal objetivo "perceber como é que o fígado detetava o aumento de ferro" no organismo, mais concretamente, que gene ou proteína "sentia o aumento de ferro" e originava uma resposta do fígado.

"O objetivo deste estudo foi procurar eventuais modificadores da doença, eventuais alvos terapêuticos e, neste caso, havendo um gene, o NRF2, que é responsável pela resposta antioxidante do nosso organismo, fez todo o sentido pensar que um gene que coordena a resposta antioxidante poderá ser importante no contexto de excesso de ferro", frisou.

Apesar das doenças associadas à carência de ferro no organismo, como a anemia, serem as "mais conhecidas pelo público em geral", o excesso deste elemento também "é prejudicial à saúde", isto porque ao provocar danos nos tecidos pode originar a falência de órgãos como o coração e o fígado.

As doenças mais associadas a este excesso são a hemocromatose hereditária (doença genética caracterizada por um excesso de absorção de ferro) e as talassémias (doença do sangue caracterizada por anomalias na produção de hemoglobina).

A equipa, que envolveu investigadores do i3S e do MRC Weatherall Institute of Molecular Medicine na Universidade de Oxford, concluiu, através de experiências em ratinhos com hemocromatose e talassémia, que o gene NRF2 desempenha um "importante papel de regulador" nas células endoteliais, células do fígado que produzem a proteína BMP6 que contribui para diminuição de ferro no organismo.

"O metabolismo do ferro é controlado pelo fígado através de uma proteína, a hepcidina, que controla os níveis de ferro que andam em circulação", salientou Tiago Duarte, adiantando que esta investigação permitiu saber que o NRF2 é o "sensor que faz com que o fígado pese o aumento do ferro e aumente também a produção de hepcidina".

Segundo Tiago Duarte, o estudo, desenvolvido desde 2014, ao mostrar também que a "ativação farmacológica do NRF2 pode ter efeitos terapêuticos" e reduzir os níveis de ferro, "abre portas" a novas investigações.

"Pode ser explorada a hipótese de tentar tratar pacientes com sobrecarga de ferro com ativadores de NRF2 e ver se com isso conseguimos diminuir a absorção de ferro", concluiu o investigador do grupo 'Basic & Clinical Research on Iron Biology' do i3S.