Segundo avança a Associated Press, já terão sido contados 97,4% dos votos das eleições legislativas decorridas durante o dia de ontem, em Israel. A agência apurou que o Likud, partido de Benjamin Netanyahu, e os seus tradicionais aliados à direita terão obtido uma maioria de 65 lugares no parlamento (num universo de 120), permitindo assim ao atual primeiro-ministro formar governo.

É no apoio dos seus aliados que residirá a chave para Netanyahu se manter enquanto líder de Israel, já que de acordo com as projeções, o Likud deverá obter o mesmo número de assentos, 35, no Knesset (Parlamento israelita) que o Azul e Branco, o partido de centro-esquerda do seu principal adversário, o general Benny Gantz.

Apesar de uma campanha eleitoral marcada por acusações de corrupção contra Netanyahu, este resultado, a confirmar-se, fará com que o atual líder se torne, ao final do ano, o primeiro-ministro com mais tempo de poder na história do Estado de Israel, superando David Ben Gurion.

Do lado de Netanyahu deverão posicionar-se os partidos nacionalistas de direita Yisrael Beiteinu, assim como a coligação Direita Unida, composta por Lar Judaico, Otzma Yehudit e Tkuma, sendo estes dois últimos de extrema-direita. Para além disso, ainda poderá ter a seu lado o Kulanu, força centrista, tal como os partidos religiosos ultra-ortodoxos Shas e Judaísmo Unido da Torá.

A apoiar Gantz numa união à esquerda deverão estar o partido Trabalhista de Israel e o Meretz - sendo que ambos deverão obter resultados mínimos históricos -, juntando-se ainda a coligação de extrema-esquerda Hadash–Ta'al e a coligação de partidos árabes Balad UAL.

Os resultados definitivos, contudo, deverão ser apresentados amanhã, pintado assim um retrato completo do que será o parlamento israelita nos próximos 4 anos. Mais de 6,3 milhões de eleitores estavam registados para comparecer às urnas na terça-feira para escolher os 120 deputados que os representarão na Knesset. O índice de participação foi de 67,9%, representando uma diminuição face aos 71,8% nas legislativas de 2015.

A responsabilidade recai agora no Presidente da República do Estado de Israel, Reuven Rivlin, que deverá consultar os representantes dos partidos para escolher o candidato com melhores hipóteses de formar governo. Dada as previsões de um Knesset espartilhado entre várias forças políticas, esperam-se semanas de negociações.

Apesar da sua aparente vantagem, Netanyahu terá ainda assim de convencer dois dos seus antigos aliados a conceder-lhe apoio, já que Avigdor Lieberman, antigo ministro da Defesa e líder do Yisrael Beiteinu, e Moshe Kahlon, ex-ministro das Finanças e chefe do Kulanu, não lhe declararam apoio formal ao longo da campanha e poderão ser eventuais “cartas fora do baralho”.

Ontem, perante a incerteza do resultado, tanto Netanyahu, 69 anos, como Gantz, 59, reivindicaram vitória ao final da votação.

Num discurso dirigido aos seus apoiantes em Tel Aviv, Netanyahu disse que a vitória foi "magnífica". "O povo de Israel deu-me o seu apoio para um quinto mandato, e expressou uma confiança ainda maior", disse líder do Likud, que prometeu formar “um governo de direita”, mas “ser um primeiro-ministro para todos os cidadãos de Israel”, sejam “de direita, esquerda, judeus e não-judeus”.

Ao mesmo tempo, quartel-general do partido Azul e Branco, o general Benny Gantz, também celebrava a votação. "É um dia histórico, mais de um milhão de pessoas votaram em nós. O presidente deve nos atribuir a responsabilidade de formar o próximo governo porque somos o partido mais importante", declarou Gantz.

No entanto, hoje o candidato, ex-paraquedista e general de linha dura, de 59 anos, já pareceu mudar de postura, não admitindo, ainda assim, a derrota. “Apesar dos céus parecerem enevoados, nada é final. Pode haver mudanças e algumas opções políticas podem abrir-se”, escreveu aos seus apoiantes.

Sem diferenças significativas nos programas do governo entre os dois candidatos,, a campanha teve um caráter agressivo e foi vista no país como um plebiscito sobre a pessoa de Netanyahu, que enfrenta a justiça em três casos distintos de corrupção. Numa campanha eleitoral caracterizada por frequentes acusações entre os dois principais candidatos, o conflito de Israel com os palestinianos e a possibilidade de um recomeço das negociações estiveram praticamente ausentes dos discursos eleitorais.

Gantz disse ao longo da campanha que esta eleição era fundamentalmente sobre o fim de anos de divisões e corrupção materializados na figura de Netanyahu. Já o primeiro-ministro, apesar da mensagem de união que deixou ao clamar vitória, baseou-se uma mensagem securitária, acusando Gantz de se unir aos partidos árabes para o derrubar.

Como resultado, os líderes árabes para a região acusaram Netanyahu de demonizar a comunidade árabe, que constitui 20% da população, o que causou apelos de boicote a estas eleições.

A polémica junto da comunidade árabe manteve-se em mais dois episódios. Primeiro, Netanyahu alimentou ainda mais a polémica, ao afirmar, desafiando a comunidade internacional, que está preparado para anexar colonatos israelitas na Cisjordânia, um território palestino ocupado por Israel por meio século.

Mais tarde, refletindo o clima de hostilidade na campanha, o Hadash-Ta’al apresentou uma queixa na comissão eleitoral depois de militantes do Likud terem sido apanhados a colocar 1200 câmaras escondidas nas secções eleitorais dos setores de maioria árabe. O partido árabe garante que isso foi feito para intimidar os eleitores e o Likud respondeu que o fez para evitar fraudes, sendo que a polícia confiscou dezenas de exemplares.

O presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, expressou ontem o seu desejo de que estas eleições significassem uma abertura à paz e disse estar preparado para retomar as negociações se o direito internacional for respeitado.

Porém, perante os resultados que dão vantagem a Netanyahu, o negociador palestiano Saeb Erekat disse que os israelitas disseram nas urnas "não à paz". "Os israelitas votaram para manter o statu quo. Disseram 'não' à paz e 'sim' à ocupação", avaliou Saeb Erekat num comunicado.

Quem já reagiu à possível vitória de Netanyahu foi Donald Trump. Em conferência de imprensa, o Presidente dos EUA admitiu ser prematura a declaração de vitória, mas disse ter informações de que ele venceu as eleições e que isso aumenta a possibilidade de alcançar paz no Médio Oriente.

“Penso que temos uma grande hipótese de sucesso, agora que o Bibi ganhou. Quero congratular Bibi Netanyahu (…) Ainda é um pouco cedo, mas obviamente ele ganhou. É um grande aliado e um amigo. Acho que vamos ver coisas a acontecer em termos de paz. Nunca fiz promessas, toda a gente disse que era impossível alcançar a paz no Médio Oriente entre Israel e a Palestina, mas acho que temos uma hipótese”, disse o presidente norte-americano aos jornalistas.

Trump foi um dos grandes trunfos de Netanyahu durante a campanha eleitoral, sendo que o primeiro-ministro frequentemente lembrou a sua relação próxima com o líder dos EUA. O Presidente norte-americano acabou mesmo por envolver-se na campanha, ainda que indiretamente, ao reconhecer a soberania israelita sobre os Montes Golã, anexadas à Síria.