“O exército israelita […] continua a realizar operações cirúrgicas no hospital al-Shifa para impedir o terrorismo. Até à data, 20 terroristas foram eliminados no hospital al-Shifa em vários confrontos e dezenas de suspeitos detidos estão atualmente a ser interrogados”, declarou o exército em comunicado.

“No hospital foram localizados dinheiro e armas para serem distribuídos aos agentes terroristas do Hamas. Esta é mais uma prova da utilização sistemática pelo Hamas de hospitais e infraestruturas civis para as suas atividades terroristas”, alega o exército israelita.

Entre os detidos, denunciou entretanto a al-Jazeera, está o jornalista do canal de notícias qatari Ismail al-Ghoul, que se encontrava no local com a sua equipa e que foi agredido pelas tropas israelitas.

“Estes ataques constituem uma tática de intimidação contra os jornalistas, para os dissuadir de relatar os crimes horríveis cometidos pelas forças de ocupação [israelitas] contra civis inocentes em Gaza”, denunciou a al-Jazeera, que exigiu a “libertação imediata” de al-Ghoul.

“O ataque contra o [jornalista] Ismail al-Ghoul faz parte de uma série de outros, sistemáticos, contra a al-Jazeera”, acrescentou o canal de televisão.

A al-Jazeera lembrou o assassínio, em 2022, da jornalista palestiniano-norte-americana Shireen Abu Akleh por fogo israelita em Jenin, na Cisjordânia ocupada, as mortes de Samer Abudaqa e Hamza al-Dahdouh na atual guerra e o bombardeamento dos escritórios do canal qatari em Gaza, em maio de 2021, bem como os ataques às famílias dos jornalistas.

Por seu lado, o Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) condenou hoje a detenção do correspondente árabe da al-Jazeera.

“Com cada jornalista morto, com cada jornalista detido, a nossa capacidade de compreender o que se passa em Gaza diminui significativamente. Este é o pior conflito para os jornalistas que o Comité para a Proteção dos Jornalistas alguma vez documentou e a situação está simplesmente a piorar “, afirmou a diretora do CPJ, Jodie Ginsberg.

Hoje de madrugada, o exército israelita invadiu com tanques e franco-atiradores o Hospital al-Shifa, o mais importante do território e que já tinha sitiado outras três vezes, causando mortes entre os mais de 30.000 deslocados que se refugiam naquele centro, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, que é controlado de facto pelo grupo islamita palestiniano Hamas, autor dos atentados contra Israel a 7 de outubro de 2023, que desencadearam a atual guerra.

Israel alega que, de acordo com informações dos seus serviços de informação, havia suspeitas de que se encontravam no centro altos responsáveis do Hamas e as tropas optaram por conduzir “uma operação cirúrgica para impedir a atividade terrorista e deter os terroristas no complexo”, segundo um comunicado militar israelita.

Scott Griffen, diretor-adjunto do Instituto Internacional de Imprensa (IPI), apelou também à “libertação imediata” de al-Ghoul, bem como informações precisas sobre o seu paradeiro e estado de saúde.

“Isto não só ameaça a vida dos jornalistas que estão no terreno a tentar contar a história, como também impede que o público de todo o mundo tenha acesso à verdade”, afirmou Griffen.

Segundo dados do CPJ, até à data, pelo menos 95 jornalistas e trabalhadores dos meios de comunicação social — quase todos palestinianos — foram mortos desde o início da guerra em Gaza.

A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelo ataque perpetrado a 7 de outubro de 2023 pelo Hamas no sul de Israel, que causou a morte de pelo menos 1.160 pessoas, na sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelitas.

A operação militar israelita lançada em represália causou mais de 31.700 mortos na Faixa de Gaza, na sua maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.