“Este projeto começa como um projeto pequeno, a partir do mito de Dafne, para a villa Borghese, em Roma, que nunca aconteceu. A equipa foi para casa no confinamento, a bordar folhas, porque era a única coisa que eu podia mandar para toda a gente. E eu pensei, o que é que vamos fazer? Vamos bordar as folhas da dita árvore e Jean-François Chougnet [comissário da exposição] achou que seria um bom projeto para a Capela. E então nasceu a ideia de transformar a árvore de Dafne em ‘Arvore da Vida’, associada a esta ideia de recomeço”, afirmou Joana Vasconcelos em entrevista à agência Lusa, em Paris.

Esta obra nasce assim da inspiração intemporal de um mito grego, em que Dafne, primeiro amor de Apolo, o rejeita e pede ao pai que a ajude a fugir à insistência deste deus, acabando por transformá-la num loureiro, e do contexto em que a peça foi concebida, a data original da Temporada Cruzada entre Portugal e França, que coincidiu com a pandemia de covid-19.

“Foi algo produzido em plena pandemia, a partir de reciclagem de materiais e tecidos que tinha no ateliê. Foi a ocupação de muita gente durante muitos meses e foi o foco das emoções – até o desespero e ansiedade – e a pergunta ‘o que será o futuro?’. Todas essas emoções fazem parte deste projeto. Disse à equipa e a mim própria, que tinha de fazer algo positivo e fantástico para comemorar a saída desse período”, explicou a artista.

Joana Vasconcelos criou uma “árvore luxuosa e sensual” em tons de vermelho, castanho e dourado, com um intrincado tronco de tecido, com várias técnicas artesanais com lãs e outros materiais, que se propaga depois na copa em dezenas de ramos que acolhem cerca de 140 mil folhas, algumas em bordado de Castelo Branco, outras cobertas de lantejoulas, e ainda folhas de couro, onde foram instaladas milhares de luzes LED.

A artista não consegue estimar o tempo passado pela sua equipa a executar este projeto, já que abrangeu os períodos de confinamento, em que os artesãos não podiam ir ao ateliê, com Joana Vasconcelos a qualificar esta obra como “de alta-costura”, devido à atenção que recebeu e a tudo ter sido “feito à mão”.

A visita à exposição vai ser acompanhada em permanência por uma música composta por Margarida Gil, especificamente para esta obra, que será interpretada por Rui de Luna. A peça musical partilha o nome da instalação: “Árvore da Vida”.

Para a inauguração oficial, que acontece hoje à tarde, esta música vai ser tocada ao vivo e o espetáculo vai contar com o ministro português dos Negócios Estrangeiros, João Cravinho, a ministra francesa dos Negócios Estrangeiros, Catherine Colonna, sendo também esperada a presença do ministro português da Cultura, Pedro Adão e Silva, e da sua homóloga francesa, Rima Abdul Malak, entre outras figuras de Portugal e de França.

Nos próximos meses, Joana Vasconcelos vai continuar a inaugurar obras em diferentes países, com o ”O Bolo de Noiva”, a ser aberto ao público já em maio, no Reino Unido, com a sua “Valquíria” feita para o desfile da marca Dior a viajar em julho até à China. Joana Vasconcelos terá também uma instalação nas Galerias Uffizi e no Palácio Pitti, em Florença. Em setembro, terá uma exposição no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa.