"Não vou permitir que nenhum membro do júri seja intimidado nesta sala", disse, taxativo, o juiz Juan Merchan, quando uma candidata foi obrigada a dar explicações sobre um vídeo publicado no Facebook que motivou um comentário do bilionário.

Num processo que parece avançar mais rápido do que o previsto, no fim da tarde desta terça o juiz já tinha selecionado e tomado o juramento de sete dos 12 membros do júri, além de seis suplentes, que vão decidir o destino do republicano neste julgamento mediático que leva pela primeira vez na História do país um ex-presidente ao banco dos réus para responder a um processo penal.

Os eleitos até o momento são profissionais de diferentes áreas, que foram submetidos a um processo de seleção no qual foram consultados sobre o seu trabalho, onde moram, a sua situação familiar, se tomam medicamentos que podem afetar a sua concentração, que jornais leem ou quais as redes sociais que utilizam, ou se sentem-se capazes de julgar com equidade um caso altamente mediatizado e politizado.

Tanto a Procuradoria quanto a defesa podem cada uma recusar dez candidatos de uma seleção previamente feita pelo juiz. As audiências para definir a composição do júri serão retomadas na quinta-feira.

Se tudo avançar como até agora no Supremo Tribunal de Manhattan, espera-se que na segunda-feira sejam apresentadas as alegações iniciais de acusação e defesa.

Caso seja considerado culpado, o que exige uma decisão unânime do júri, Trump, candidato republicano às presidenciais de 5 de novembro, pode ser condenado a quatro anos de prisão.

A Procuradoria de Manhattan acusa o bilionário republicano de 34 falsificações de documentos contabilísticos da empresa da família, a Trump Organization, para camuflar o pagamento de 130 mil dólares à ex-atriz pornográfica Stormy Daniels.

O objetivo, segundo a acusação, era comprar o seu silêncio sobre um antigo caso extraconjugal — que Trump sempre negou — na reta final da sua campanha à Casa Branca em 2016, quando derrotou a democrata Hillary Clinton.

Visivelmente contrariado e inclusive entediado, Donald Trump, de 77 anos, lamentou estar a passar por um processo que considera "manipulado", enquanto o presidente democrata Joe Biden, o seu adversário nas eleições de novembro, segue em campanha.

"Eu deveria estar neste momento na Pensilvânia, na Flórida, em muitos outros estados – na Carolina do Norte, na Geórgia — a fazer campanha", disse Trump à imprensa ao chegar ao tribunal, acusando Biden de orquestrar uma cruzada judicial contra ele.

Ao fim de um dia intenso, Trump foi ao Harlem, bairro hispânico do norte de Manhattan, onde visitou a vítima do ataque a uma mercearia. Recebido pelos seus apoiantes sob gritos de "mais quatro anos", ele acusou o procurador de Manhattan, Alvin Bragg, de "não fazer nada" contra os criminosos e de, no lugar disso, atacá-lo.

Trump considera que a justiça de Nova Iorque, cidade de tendências democratas, conspira contra ele, particularmente o juiz, a quem pediu reiteradamente que se afaste do caso.

Na véspera, Trump condenou o magistrado, que o obrigou a assistir a todas as audiências (quatro dias por semana), não permitindo assistir à diplomação do seu filho ou acompanhar uma audiência que o afeta no Supremo Tribunal na próxima semana.

Uma sentença de culpa não seria um obstáculo para que ele dispute as eleições. Mas, além de impedi-lo de fazer campanha normalmente, pode sem dúvida afetar as suas possibilidades de ganhar, mesmo que Trump tenha vindo a utilizar até agora a sua presença nos tribunais para dar visibilidade à sua mensagem eleitoral.

"A polarização só aumenta. A atitude dos eleitores indecisos perante tudo isso é incerta, mas [a presença de Trump nos tribunais] pode dissuadi-los", diz à AFP o professor da Universidade de Columbia John C. Coffee.

Esta é uma das muitas frentes abertas do magnata nova-iorquino que fez fortuna no setor imobiliário.

Trump também é acusado de tentar reverter os resultados das presidenciais de 2020 e por levar documentos confidenciais quando saiu da Casa Branca.

O julgamento por interferência eleitoral estava marcado para 4 de março, mas foi suspenso para que o Supremo Tribunal analise a alegação de que, como ex-presidente, Trump teria imunidade criminal, o que foi marcado para 25 de abril.

Os seus advogados tentam adiar os processos judiciais para depois das eleições de novembro, porque, caso vença, as acusações federais contra ele podem ser retiradas.