O processo, cujos argumentos iniciais foram adiados por um dia devido a relatos de que a rede conservadora de televisão estava a tentar firmar um acordo, pode tornar-se num dos maiores casos de difamação da história dos Estados Unidos.

O caso ameaça também prejudicar ainda mais a reputação e as finanças da Fox News, o canal de notícias 24 horas de Rupert Murdoch, assim como o próprio titã dos media, que deverá ser chamado para depor.

A Dominion Voting Systems processou a Fox News em 1,6 mil milhões de dólares em março de 2021, alegando que o canal promoveu as falsas alegações do republicano Donald Trump de que as suas máquinas foram usadas para defraudar a eleição presidencial de 2020, que perdeu para o democrata Joe Biden.

A empresa argumenta que a Fox News transmitiu estas alegações sabendo que não eram verdadeiras e que a rede de televisão começou a veicular a narrativa conspiratória de Trump porque estava a perder audiência depois de ser o primeiro meio de televisão a declarar Biden como vencedor no Arizona e a projetar que ganharia a presidência.

A Fox News nega ter cometido difamação e sustenta que apenas estava a informar quanto às acusações de Trump, e não que as apoiava, resguardando-se na Primeira Emenda, que protege a liberdade de expressão. Tal respaldo constitucional torna mais difícil aos demandantes ganhar processos por difamação nos Estados Unidos.

Nas audiências antes do julgamento, o juiz de Delaware, Eric Davis, encarregado do caso, decidiu que não há dúvidas de que a Fox divulgou declarações falsas sobre a Dominion. No entanto, para que a Dominion ganhe, tem de provar que a Fox News agiu com malícia genuína, algo difícil de fazer e uma pedra angular da lei de imprensa dos EUA desde 1964.

A Fox News tem repórteres, mas passa a maior parte das suas emissões com comentaristas, incluindo vários em programas em horário nobre apresentados por líderes de opinião conservadores.

O processo da Dominion tem sido uma fonte de embaraço para a Fox, que de acordo com o The Wall Street Journal, também propriedade de Murdoch, estava à procura de maneiras para resolver o caso sem ir a julgamento. Um acordo significaria que Murdoch, de 92 anos, e apresentadores famosos como Tucker Carlson evitariam ter de se sentar no banco das testemunhas no tribunal.

Murdoch admitiu numa declaração apresentada ao caso que alguns pivôs da Fox News "endossaram" no ar a falsa alegação de que a eleição de 2020 foi roubada a Trump, mas negou que a rede como um todo tenha promovido essa alegação sem fundamento, de acordo com documentos judiciais apresentados pela Dominion em fevereiro.

Os advogados da Dominion também publicaram muitas mensagens internas da Fox News, nas quais alguns comentaristas expressaram o seu descontentamento com Trump, apesar de elogiarem o ex-presidente no ar. A Fox News acusou a Dominion de "selecionar e tirar as declarações de contexto".