A detenção em março do correspondente do Wall Street Journal (WSJ) é o primeiro caso do género em décadas na Rússia e acontece em plena crise entre Washington e Moscovo devido ao conflito na Ucrânia.

Gershkovich, "combativo" de acordo com a sua advogada, Maria Korchaguina, apareceu nesta terça-feira pela primeira vez em público desde a sua detenção para a audiência. O jornalistas sorriu algumas vezes para os repórteres que estavam no tribunal. A advogada diz que o jornalista tem "praticado desporto" no encarceramento e que "entende ter o apoio das pessoas".

O repórter de 31 anos, que cobriu vários julgamentos na Rússia, permaneceu na cela de vidro atribuída aos acusados, com marcas de algemas nas mãos.

Após uma audiência à porta fechada, o juiz decidiu "deixar inalterada" a decisão de prender o repórter, detido em março, segundo um correspondente da AFP que teve acesso à sala durante a leitura da decisão.

O Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia anunciou a detenção do repórter em março, quando este se encontrava a trabalhar em Ekaterimburgo. O Kremlin afirma que Gershkovich foi detido em flagrante delito de espionagem, sem apresentar nenhuma prova neste sentido, pois o caso é sigiloso. As autoridades russas acusam-no de recolher informações sobre a indústria de defesa do país

Evan Gershkovich, a sua família, o WSJ e as autoridades norte-americanas rejeitam categoricamente as acusações de espionagem, que podem resultar numa pena até 20 anos de prisão, e acusam Moscovo de perseguição pelo seu trabalho jornalístico.

A embaixadora dos Estados Unidos em Moscovo, Lynne Tracy, que compareceu nesta terça-feira ao tribunal, visitou o jornalista na segunda-feira pela primeira vez desde a sua detenção. "Ele está bem de saúde e continua forte, apesar das circunstâncias", afirmou Tracy no Twitter.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, voltou a exigir a "libertação imediata" do repórter norte-americano, conhecido pelo seu rigor e amor pela Rússia.

"Não perco a esperança", afirmou Gershkovich numa carta enviada aos seus pais, publicada na semana passada pelo Wall Street Journal.

A detenção acontece num momento de grave tensão diplomática entre Estados Unidos e Rússia pelo conflito da Ucrânia, onde Washington apoia Kiev contra Moscovo.

Desde o início da ofensiva russa contra a Ucrânia no ano passado, as autoridades intensificaram a repressão na Rússia contra os opositores e contra a imprensa.

A detenção de Gershkovich causou um grande choque, porque nenhum jornalista ocidental tinha sido preso e acusado de espionagem na Rússia durante décadas. Muitos analistas acreditam que o jornalista pode ser usado por Moscovo numa possível futura troca de prisioneiros com Washington.

Em dezembro de 2022, a estrela do basquetebol Brittney Griner, detida na Rússia, foi trocada pelo traficante de armas russo Viktor Bout, que estava preso nos Estados Unidos.

A data do início do julgamento de Gershkovich não foi anunciada.