“Parece que não estamos tão certos agora como estávamos há pouco quando à identidade do atacante”

As redes sociais são um manancial de oportunidades. Várias são as histórias de pessoas cujas vidas mudam radicalmente por causa de publicações no Facebook, Twitter, Instagram, etc. Mas, ao mesmo tempo que há vidas mudam para melhor, há equívocos que provam que os perigos estão sempre à distância de um “post”.

Horas depois do ataque de Londres, que fez quatro mortos e cinco dezenas de feridos, o canal de notícias Channel 4 avançava o nome do alegado autor: Abu Izzadeen, conhecido por financiar e incitar ao terrorismo, o que o levou à prisão por quatro anos e meio em 2008. E assim se construiu a história, agarrada também pelo ‘Indepentent’, do Reino Unido, ou pelo ‘La Stampa’, de Itália, por exemplo.

Um tweet, atribuindo a informação ao jornal italiano ‘La Stampa’, cria uma mensagem partilhável: e 7.510 pessoas, incluindo, diz o ‘New York Times’, Donald Trump, partilham-na (até às 15h20 de 24/03).

Todavia, houve um pormenor que os diversos jornalistas que cobriram a história se esqueceram de verificar: Abu Izzadeen estava - está - preso desde o ano passado, depois de ter abandonado o Reino Unido sem alertar as autoridades, coisa a que está obrigado pelas leis antiterroristas britânicas. Tal e qual escreveu a BBC, a 8 de janeiro de 2016, Abu Izzadeen, nascido Trevor Brooks, e Simon Keller foram condenados a dois anos de prisão, depois de terem sido deportados da Hungria, para onde foram, clandestinamente, num camião.

E isso mesmo veio dizer, no Twitter, Dominic Casciani, correspondente de assuntos internos da BBC:

Pode dizer-se que o cadastro e o passado de Izzadeen ajudou a “confirmar” a informação. Porém, poucas justificações há para lançar notícias erradas. Por isso, na noite de quarta-feira, já depois de uma longa discussão entre moderadores na página de Izzadeen na Wikipédia, que pode ser vista no registo de alterações, o Ben de Pear, editor do Channel 4, emitiu um pedido de desculpas:

Numa aldeia global os boatos correm mais depressa

Num mundo constantemente ligado, cada erro propaga-se mais depressa que nunca: “em posts do Twitter, mensagens do Facebook e num programa em direto da televisão britânica [Channel 4], as pessoas apontavam para Abu Izzadeen”, escreve o The New York Times. “As suas fotos foram partilhadas na internet. Até a página de Izzadeen na Wikipedia foi atualizada com a informação.

Num e-mail, Tanveer Qureshi, advogado de Izzadeen, lembrou a imprensa de que o seu cliente está preso e “não foi responsável por estes ataques terríveis e injustificados”, cita o The New York Times.

“Na era digital”, escreve o correspondente de tecnologia do Times, Mark Scott, “as pessoas procuram cada vez mais cobertura em tempo real, prontamente fornecida por toda a sorte de fontes, credíveis e o oposto. Este ambiente online frenético tem promovido o espaço perfeito para a dispersão de rumores, criando a necessidade de formas rápidas e precisas de contornar narrativas falsas.”

Os gigantes do social media, como o Facebook ou a Google, têm vindo a alterar os seus algoritmos e a implementar medidas para prevenir que notícias falsas tenham visibilidade. O Facebook está a testar avisos em notícias que sejam contestadas por avaliadores independentes como sendo falsas. E a Google tem estado em maus lençóis com os anúncios que são colocados ao pé de conteúdo extremista no YouTube, como o SAPO 24 explica, neste artigo da passada terça-feira.

Já o mês passado, a Disney cortou relações com o youtuber PewDiePie por causa de referências nazis e antissemitas que publicou no seu canal naquela plataforma.

Fake News True News

O atacante morto pela polícia na tarde de quarta-feira foi, na verdade, Adrian Russel Ajao. Um insuspeito inglês, com cadastro por violência no passado e algumas ligações àquilo a que Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, chamou "violência extremista".

Depois de ter sido identificado como Khalid Masood, as autoridades britânicas revelaram esta sexta-feira em comunicado o nome de nascimento do homem de 52 anos, que se terá convertido ao Islão em data incerta. Leia o perfil do suspeito dos ataques que o SAPO 24 preparou.

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