Segundo o chefe de Estado, as duas famílias na origem da construção europeia, a social-democrata e a democrata-cristã, "estão em crise neste momento" e "os sistemas de partidos nacionais deviam, nalguns casos, repensar-se, reaproximarem-se dos povos".

Marcelo Rebelo de Sousa falava num debate sobre a Europa na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, com o primeiro-ministro, António Costa, com quem disse ter a este respeito "uma grande sintonia de pontos de vista".

Na sua intervenção inicial, antes de responder a perguntas dos alunos, o chefe de Estado afirmou que "os líderes da Europa, em muitos casos, não são suficientemente convictos da causa europeia", como "convém ser".

"Fazer a Europa com quem se converte à causa europeia porque tem de ser, é curto", criticou, advertindo que "nada está nunca adquirido" e que "é preciso fazer pedagogia".

Como enquadramento, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que "a família socialista ou social-democrata" encontra-se "em crise em muitos países europeus", enquanto "a família democrata-cristã, alargada depois ao centro reformista, e com alguns conservadores, que é muito poderosa", está "dividida internamente entre os verdadeiramente europeus e os que têm muitas dúvidas sobre a Europa, mas lá estão por conveniências táticas".

"Ora, um projeto precisa de uma base sólida", acrescentou. "E não há esse milagre que é querer fazer omeletes muito boas com ovos que não são muito bons", reforçou.

No seu entender, as "crises patentes nos sistemas políticos dos Estados-membros" estão a acontecer "com frequência excessiva".

"Os sistemas de partidos nacionais deviam, nalguns casos, repensar-se, reaproximarem-se dos povos e resolverem os problemas nacionais, ao mesmo tempo que pressionam para que a Europa facilite a resolução desses problemas nacionais. Se esses mecanismos nacionais não funcionarem em muitos países da Europa, isso acaba por ter efeitos negativos para a Europa", considerou.

Nesta iniciativa para assinalar o Dia da Europa, antecipando-se a eventuais perguntas dos alunos, o Presidente da República defendeu que as opções de Portugal de adesão ao projeto europeu e à moeda única foram corretas e que "Portugal deve continuar a apostar" na UE.

"Não só porque não tem uma alternativa, mas porque tem tudo a ganhar na aposta europeia", afirmou, alegando que hoje em Portugal só existem forças políticas que "são eurocéticas em termos de euro" e já "não em termos de UE, não questionam abertamente a UE".

Sobre a moeda única, o Presidente da República disse que "sair do euro é o mesmo que sair da União Europeia, para Portugal", como para os outros países da moeda única: "Para quem está no euro, o efeito é exatamente o mesmo".

Quanto ao papel da UE no mundo, definiu-o como "essencial para o equilíbrio mundial" e salientou o seu peso comercial, acrescentando: "Precisa de ter um peso político equivalente a esse peso comercial".