"Só uma visão limitada, felizmente ultrapassada, poderá encontrar contradição insanável entre esses princípios. Existiram, existem e sempre existirão pontos de tensão, como é próprio e saudável num regime democrático", declarou.

Marcelo Rebelo de Sousa falava na sessão solene comemorativa do Dia da Região Autónoma dos Açores, no parlamento regional açoriano, na Horta, ilha do Faial.

"É mais do que tempo de todos compreendermos que as diversas perspetivas sobre o alcance dos princípios estruturantes da República não só são naturais como são desejáveis, no quadro de uma democracia consolidada e amadurecida, que rejeita o unanimismo de pontos de vista e promove o diálogo franco, elevado e leal entre os poderes políticos", considerou.

Segundo o Presidente, não se deve "simular que não existem pontos de atrito entre conceções distintas sobre a autonomia regional e os seus desígnios", e é desejável até que "esse espírito de debate se alargue e envolva sociedade civil como um todo".

"O que importa ter em conta é, como disse, que o princípio da unidade do Estado, por um lado, e o princípio da autonomia dos Açores e da Madeira, por outro, não são sistemática, lógica ou praticamente necessariamente antagónicos", reforçou.

Mais à frente no seu discurso, que durou cerca de 25 minutos, Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se ao atual contexto mundial, para exaltar a coesão nacional.

"Importa dizer, sem equívocos ou eufemismos que, enquanto assistimos em vários lugares da Europa e do mundo a graves riscos de fragmentação e desintegração de comunidades políticas que até aí julgávamos serem sólidas e estáveis, Portugal se apresenta como um país pacífico - o terceiro na última ordenação mundial -, saudavelmente coeso, unido na partilha do mesmo sentido de desígnio comum", afirmou.

O chefe de Estado acrescentou que "esse desígnio se traduz num sentimento agregador que tanto se encontra num riquíssimo arquipélago situado no meio do Atlântico, cheio de alma e de capacidade de afirmação, como no coração de um português emigrado".