A eurodeputada do Bloco de Esquerda (BE) comentava assim à agência Lusa o anúncio de que o presidente do Parlamento Europeu (PE), Martin Schulz, vai abandonar a política europeia e concorrer nas próximas legislativas alemãs, em 2017, contra a chanceler Angela Merkel.

Apesar de não estar “surpreendida” com a saída de Martin Schulz, Marisa Matias considerou que, no que diz respeito a Portugal, este até teve uma "boa postura".

“Martin Schulz, enquanto presidente do PE, defendeu sempre um tratamento igual para todos os países. Por exemplo, no caso da Comissão Europeia com discursos contraditórios sobre as sanções, Schulz teve uma postura de tratamento igual para todos os países”, recordou.

No entender de Marisa Matias, esta posição de Martin Schulz “acabou por favorecer a posição de Portugal na medida em que este achava que não se podia aplicar a Portugal o que não se estava a aplicar a outros países que estavam em incumprimento".

A eurodeputada lembrou também que ficaria surpreendida se Martin Schulz se candidatasse a um terceiro mandato.

“Na realidade, surpreendia-me verdadeiramente se ele se candidatasse a um terceiro mandato, porque isso nunca aconteceu na história do PE. No caso das instituições europeias, os cargos decorrem de um acordo entre famílias políticas. Entre eles, distribuem os cargos como se distribuem bónus”, disse.

Marisa Matias lembrou que a nomeação de Schulz resultou de um acordo que foi feito na distribuição de lugares entre o Partido Popular Europeu e os socialistas democratas, sendo que Jean-Claude Juncker ficou como presidente da Comissão Europeia e Martin Schulz do PE.

“Esta forma de nomeação condiciona o seu próprio papel. Ficou agarrado, preso ao que foi o acordo entre as grandes famílias políticas. Os acordos funcionam para haver compromissos”, disse.

Na opinião de Marisa Matias, o desempenho de Martin Schulz foi “mais negativo do que positivo”, salientando que “muitas vezes este foi além do seu mandato”.

“Creio que, em algumas questões, Martin Schulz conseguiu mudanças como por exemplo nos tratados que deram mais relevância ao PE, mas a minha avaliação é mais positiva que negativa. Esteve muitas vezes além do que foi o seu mandato quando assumiu unilateralmente posições em nome do PE sem nunca consultar o PE”, sublinhou.

A eurodeputada lembrou a negociação ”difícil entre o governo da Valónia (Bélgica) e os restantes governos europeus a propósito do acordo comercial com os Estados Unidos".

“Martin Schulz fez pressões inacreditáveis, públicas, sobre o primeiro-ministro da Valónia, sendo que a sua posição passou a ser a do PE. Muitas vezes minou aquele que seria o papel normal do PE”, sustentou.

Relativamente ao anúncio de que vai concorrer nas próximas eleições legislativas alemãs, Marisa Matias disse tratar-se de "um projeto pessoal, uma opção que só lhe cabe a ele e é legítima”.