Para a eurodeputada do Bloco de Esquerda, a vitória de Emmanuel Macron, que hoje foi eleito Presidente de França na segunda volta das eleições, derrotando Marine Le Pen (extrema-direita), permite “desfazer os mitos criados em torno da posição do movimento França Insubmissa” (extrema-esquerda), cujo líder, Jean-Luc Mélenchon, não apelou ao voto em nenhum dos candidatos que passaram à segunda volta.

Em declarações à Lusa, Marisa Matias destacou que “a candidatura que mais votos, em termos reais, transferiu e permitiu a vitória de Emmanuel Macron foi a candidatura da França Insubmissa”.

“Em termos percentuais há uma maior transferência dos votos de Benoît Hamon [socialista] para Macron, mas em termos de votos reais há um peso muito maior” dos eleitores do França Insubmissa, movimento que apoiou, acrescentou a eurodeputada.

Dentro desta candidatura, há também “uma abstenção elevada”, reconheceu.

“A transferência de votos para Marine Le Pen veio, como seria de esperar, da direita e não da esquerda”, sublinhou.

Sobre a opção deste movimento de não apoiar nenhum dos candidatos na segunda volta, Marisa Matias defendeu que “deveria ter havido uma maior clareza, para que não houvesse equívocos sobre a posição de Jean-Luc Mélenchon face à extrema-direita, de que é um dos maiores combatentes”.

“Se estivesse em França teria declarado o voto em Emmanuel Macron, a contragosto, mas tê-lo-ia feito porque não podemos permitir a naturalização da extrema-direita como uma alternativa democrática, porque não o é, é a antítese da democracia”, salientou.

Marisa Matias reiterou a sua “discordância profunda” em relação ao vencedor das eleições presidenciais, que vai “trazer problemas e uma enorme crise”, mas distinguiu Macron de uma “candidatura profundamente antidemocrática e contra os valores republicanos franceses, como é a da extrema-direita em França, que se consolidou, e isso é muito preocupante”.

França vive “uma situação política completamente nova” e a escolha de Macron “não elimina a profunda fratura social que está criada” naquele país, considerou a deputada no Parlamento Europeu.

Para Marisa Matias, o voto no candidato centrista foi “um voto útil, não um voto de entusiasmo, mas para combater a extrema-direita”.

O futuro Presidente francês não tem “uma base social e popular de apoio” nem “uma correspondência parlamentar”, pelo que Marisa Matias admite socialistas e republicanos terão de “fazer algum arranjo para que possa haver uma cooperação normal entre as instituições”.

“Não podemos subestimar a profunda fratura social e crise política que se vive em França neste momento. Hoje, evitando uma vitória de Marine Le Pen, evitou-se uma crise imediata, mas não se evitou a crise diferida que é a vitória de Macron”, sustentou.

O centrista Emmanuel Macron foi eleito Presidente de França com um intervalo entre 65,5 a 66,1% dos votos, segundo as primeiras projeções divulgadas após o fecho das urnas.

As estimativas atribuem a Marine Le Pen uma votação entre 33,9% e 34,5%.

Na primeira volta, celebrada a 23 de abril, Macron venceu com 24,01% dos votos, à frente da líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, que conseguiu 21,30% dos votos. O candidato conservador François Fillon ficou na terceira posição com 20,01% dos votos, seguido pelo candidato da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, com 19,58% dos votos.