“Estamos numa fase capital da nossa vida coletiva, que tem implicações sérias para todos nós, mas sobretudo para os jovens. No essencial, do ponto de vista técnico, está tudo diagnosticado. O que não há verdadeiramente em Portugal é coragem para agir, decidir e para reformar. Andamos há anos e anos a fazer diagnósticos, quando no essencial falta é saber decidir. É coragem e ambição”, afirmou Luís Marques Mendes, na Universidade de Verão do Instituto +Liberdade, que decorre em Fátima, no concelho de Ourém, distrito de Santarém.

O também comentador exemplificou tal realidade com os anúncios do secretário-geral do PS, António Costa, dirigidos aos jovens portugueses: “As propostas têm algum sentido, mas é o exemplo daquilo que não deve acontecer na política em Portugal, aquilo é poucochinho, é próprio de um primeiro-ministro sem ambição”.

Para Marques Mendes, “o país merece mais do que isso”, mas considera que aquele é o “padrão de António Costa”.

“Apresentar sempre várias pequenas medidas, que na prática têm um efeito muitíssimo reduzido, mas uma a uma permitem fazer um discurso. A isso chama-se a gestão da retórica e ilusão. Não se resolve nenhum problema de fundo. E essa é a grande questão que é política, falta de ambição e de coragem para decidir e reformar”, reforçou.

Marques Mendes acrescentou que uma maioria absoluta pressupunha um “projeto de transformação”.

Mas, “onde é que existe esse projeto de transformação na educação e na saúde? Só pequenas medidas. Onde é que há no domínio fiscal?”, questionou.

Para o social-democrata, “um país não pode ser competitivo com este domínio brutal de fiscalidade no domínio das pessoas e das empresas”.

E exemplificou: “A Hungria tem um imposto sobre as empresas na ordem dos 10%. O imposto sobre as empresas em Portugal está nos 31%. Isto do ponto de vista da atração do investimento faz diferença.”

Segundo Marques Mendes, a tendência ao longo das décadas é a geração seguinte ter uma vida melhor do que a anterior, no entanto, “pela primeira vez, a nova geração vai ter piores condições de vida que a anterior”.

“Estamos a exportar o futuro, os talentos. Precisamos de aumentar as exportações, mas não essas. Precisamos desses talentos para ajudar o país a criar riqueza”, referiu.

O presidente do Conselho Económico e Social (CES), Francisco Assis, defendeu, por sua vez, a necessidade de entendimentos entre o PS e o PSD em algumas matérias de “fundo”, como a Justiça.

“Todos temos consciência de que é uma matéria onde há profundas disfuncionalidades que afetam o regime democrático. Há décadas que falamos disso. Não compreendo por que não foi possível. É um grande falhanço”, sublinhou na sua intervenção.

O socialista reconheceu que o “crescimento da economia portuguesa, nos últimos 20 anos, é medíocre”.

“E quando cresceu acima da média europeia, foi porque os países mais ricos da Europa estão a crescer anormalmente abaixo. No CES procuramos fazer a comparação com os países que estão mais ou menos na situação onde Portugal se encontra e aí a situação não é brilhante”, constatou.

A falta de crescimento na produtividade está relacionada, segundo Francisco Assis, com o facto de Portugal “ser um dos países da Europa que continua a ter uma população ativa menos qualificada” e com um nível de “organização medíocre”.

“Um dado positivo, devido ao grande investimento na educação, é que estamos acima da média europeia nos jovens que estão mesmo agora a entrar no mercado de trabalho ou entraram há pouco. Significa uma mudança radical”, acrescentou.

Durante as perguntas da plateia, Marques Mendes foi confrontado com a sua potencial candidatura a Presidente da República. O social-democrata não respondeu. A Lusa também confrontou o comentador com a mesma questão no final, à qual Marques Mendes preferiu o silêncio.