O canhão do rio dos Mouros, junto ao campo arqueológico e ao Museu Nacional de Conímbriga, e aquela mata “são dois elementos preponderantes no processo”, disse à agência Lusa Miguel Pessoa, do Movimento para a Promoção da Candidatura de Conímbriga a Património Mundial da UNESCO.

“Conímbriga é muito mais do que um museu. Só se consegue perceber a longa e fascinante diacronia da cidade se entendermos o território envolvente”, confirmou Vítor Dias, diretor do Museu Nacional.

Também o presidente da Câmara de Condeixa-a-Nova, Nuno Moita, realçou a necessidade de assumir uma visão integrada do património cultural e natural do município, no distrito de Coimbra, que em termos turísticos tem vindo a apostar na herança da romanização.

“A localização que os romanos escolheram para Conímbriga tem a ver com toda a envolvente, ainda com muita biodiversidade”, afirmou à Lusa.

A importância da arte dos mosaicos, que surgem na região em diversos sítios arqueológicos ligados à ocupação romana, é igualmente reconhecida pela candidatura de Conímbriga a Património Mundial, cuja proposta foi entregue este ano à representação da UNESCO em Portugal.

“É naquelas margens do rio dos Mouros, em plena Mata da Bufarda, que encontramos os calcários de várias cores usados pelos mosaicistas”, enfatizou Miguel Pessoa, dirigente da Associação Ecomuseu, que promove o processo para a classificação em conjunto com o município de Condeixa e o Centro de Estudos Vergílio Correia.

A mata, onde foram identificadas quase 350 espécies botânicas, incluindo pinheiros-mansos e outras resinosas de um coberto vegetal mais recente, “ajuda a compreender a cidade romana”.

“Foi dali que vieram as madeiras para construir as habitações de Conímbriga”, sublinhou Miguel Pessoa.

Conímbriga, com as suas especificidades e localização, “permite uma ligação interdisciplinar com quase todos os ramos de saber, porque nos transporta para fora do edificado”, salientou Vítor Dias, por sua vez.

O diretor do Museu Nacional afirmou à Lusa que, no passado, a Mata da Bufarda “tinha mais carvalho, azinheira e sobreiro”, mas que, mais de 2.000 anos após a chegada dos romanos, continua a ser indissociável da cidade, enquanto área verde com centenas de hectares que mantém as características primitivas da floresta mediterrânica.

No verão, foram inaugurados os passadiços do rio dos Mouros, num percurso aproximado de 800 metros, entre Conímbriga e a cascata, que a Câmara Municipal quer prolongar até ao Poço, aldeia onde se cruzam as rotas turísticas pedestres de Santiago, Carmelitas e Terras de Sicó.

“Os passadiços são uma feliz iniciativa da autarquia e uma excelente oportunidade para potenciar esta dimensão paisagística e ambiental que Conímbriga e Condeixa têm”, enalteceu Vítor Dias.

A promoção das “diferentes potencialidades que o sítio encerra” exige um “planeamento com todas as entidades” que intervêm na zona.

“É necessário um planeamento conjunto, a longo prazo, que seja capaz de perspetivar as potencialidades de todo este imenso território”, preconizou o arqueólogo.

A mata não está classificada. Porém, como em parte “está dentro da zona de proteção de Conímbriga”, acaba por “ter alguma proteção”, referiu Nuno Moita.

Ressalvando que são muitos os proprietários, o autarca apelou à criação de mecanismos para preservar e tornar mais acessível este património natural em redor de Conímbriga.

“Muito diminuída e adulterada em relação à floresta original”, a Mata da Bufarda “constitui ainda um coberto vegetal de grande importância para o estudo da flora mediterrânica”, consideram Adília Alarcão, antiga diretora do museu, e o seu colega Virgílio Correia.

Num trabalho conjunto sobre Conímbriga, publicado em 2004, os dois arqueólogos abordam “a urgência da classificação desta mata”, assim defendida por historiadores, botânicos e outros investigadores.