“O Governo italiano considera hoje a energia um setor cada vez mais decisivo, sobretudo nas parcerias estratégicas entre Europa e África. Na minha opinião, devemos sair daquelas formas de cooperação do passado, que defendiam uma abordagem muito paternalista. Não é o que serve para construir relações sólidas e duradouras”, afirmou Meloni, após reunir-se com o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi.

“O que serve é encontrar investimentos de longo prazo que possam trazer benefícios para todos os atores, que reúnam nações diferentes, e a energia é um desses fatores”, apontou, recordando que África é um “grande produtor de qualquer tipo de energia” e que a Itália, tal como o resto da Europa, “de uma hora para outra” viu-se “numa situação difícil de abastecimento energético”, com o conflito na Ucrânia.

Por isso, defendeu que é “possível construir novas relações entre os dois continentes” e que a aposta deve passar por processar nos respetivos países africanos as suas matérias-primas: “E com isso prosperarem graças aos recursos que têm”.

Apontou igualmente que a produção agrícola em África deve estar na prioridade de interesses para os países europeus.

Após reunir-se com o chefe de Estado moçambicano, a presidente do Conselho de Ministros de Itália reconheceu também que é preciso “fazer mais” nas relações entre os dois países, apostando noutras áreas, além do gás natural.

“Moçambique é um país com grandes potencialidades e perspetivas, que tem um papel muito importante no plano geoestratégico”, afirmou Giorgia Meloni, esperando que os recursos de gás natural — a petrolífera italiana Eni explora uma dessas áreas no norte do país — sejam uma “enorme oportunidade para Moçambique” e para o “reforço” das relações entre os dois países.

A chefe do Governo de Itália é acompanhada nesta visita de algumas horas a Maputo pelo líder da petrolífera italiana Eni, Claudio Descalzi, empresa que está a assinalar o 70.º aniversário e que procura em África fontes alternativas de fornecimento de gás natural.

A Eni, concessionária da Área 4 do Rovuma, já discute com o Governo moçambicano o desenvolvimento de uma segunda plataforma flutuante, cópia da primeira e designada Coral Norte, para aumentar a extração de gás, disse à Lusa, no início deste mês, fonte da petrolífera italiana.

“A Eni finalizou o Plano de Desenvolvimento, que está atualmente em discussão com os parceiros e o Governo de Moçambique para aprovação final. Ao mesmo tempo, a Eni está a avançar com processos de aquisição, estudos de impacto ambiental, etc, incluindo contratos associados à perfuração”, disse fonte oficial da petrolífera italiana, questionada pela Lusa.

Este plano envolve, nomeadamente, a aquisição de uma segunda plataforma flutuante FNLG, para a área Coral Norte, idêntica à que opera na extração de gás, desde meados de 2022, na área Coral Sul.

“A Eni está a trabalhar para o desenvolvimento do Coral Norte através de uma segunda FLNG em Moçambique, aproveitando a experiência e as lições aprendidas na Coral Sul FLNG, incluindo as relacionadas com custos e tempo de execução”, acrescentou a mesma fonte da petrolífera, operador delegado daquele consórcio.

A Área 4 é operada pela Mozambique Rovuma Venture (MRV), uma ‘joint venture’ em copropriedade da ExxonMobil, Eni e CNPC (China), que detém 70% de interesse participativo no contrato de concessão.

A Galp, Kogas (Coreia do Sul) e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (Moçambique) detêm cada uma participação de 10%.

Um documento divulgado anteriormente, elaborado pela firma moçambicana Consultec para a petrolífera Eni, aponta tratar-se de um investimento de sete mil milhões de dólares (6,3 mil milhões de euros), sujeito a aprovação do Governo moçambicano.

Se o cronograma correr como previsto, a plataforma começará a produzir no segundo semestre de 2027, ou seja, poderá arrancar ainda antes dos projetos em terra, que dependem de implicações de segurança devido à insurgência armada em Cabo Delgado.

A Coral Norte ficará estacionada 10 quilómetros a norte da Coral Sul cuja produção arrancou em novembro do ano passado, tornando-se no primeiro projeto a tirar proveito das grandes reservas da bacia do Rovuma.