“No primeiro dia que olhei pela janela, em Portugal, pensei que nunca conseguiria ficar aqui. Detestei. Depois fui à costa e vi o mar português. E no primeiro dia em Portugal percebi que a Alemanha passaria a ser um destino de visita”, descreveu à agência Lusa, Mike Weber, biólogo marinho fundador da Estação Litoral da Aguda (ELA), equipamento de Vila Nova de Gaia que segunda-feira comemora o 20.º aniversário.

A primeira visão descrita por Weber é da avenida da Boavista, no Porto. A primeira morada do alemão foi um aquário na Foz.

E a visão que o apaixonou foi a da costa portuguesa, particularmente a praia da Aguda, em Gaia, no distrito do Porto, onde alugou casa em 1984. Dirige, desde 1999, a ELA, um projeto que desenhou em 1989 e que começou a ser construído em 1993.

“Convivo com os pescadores, com esta comunidade, aprendo todos os dias com eles. A existência de uma frota pequenina em frente a casa, este mar, peixe fresco, é maravilhoso. Fui muito bem aceite por esta comunidade. Já embarquei com eles [pescadores] muitas vezes. Eu, e outros colegas, podemos ser biólogos e cientistas, mas são eles que têm a sabedoria. Têm uma experiência adquirida imbatível e admirável”, contou.

Mike Weber, há 40 anos em Portugal, começou o seu percurso pelo mundo marinho quando, aos 20 anos de idade, através de um estágio em Santa Marta, na Colômbia, mergulhou entre corais e apanhou répteis e insetos.

Seguiu-se uma incursão pela Jugoslávia para recolher cobras venenosas: “Consegui levá-las para a Alemanha clandestinamente. Não devia contar. Mas também o crime já deve ter prescrito”, disse.

Em 1975, quando era aluno da Universidade de Kiel, na Alemanha, comprou uma traineira antiga abandonada que tinha servido a pesca do camarão no mar do Norte e, após um trabalho de restauro que demorou quase dois anos, navegou por vários mares até decidir instalar-se na Foz, no Porto, convencido de que investir na reabertura do aquário que estava fechado ao público desde 1967 era, contou, “a melhor solução quer em trabalho, quer para atracar a traineira”.

“Consegui uma bolsa Rotary Foundation Internacional e fiquei alojado no aquário. Mas a recuperação desse equipamento da Foz não caiu em solo fértil”, descreveu sobre uma espécie de ‘viagem de circum-navegação’ em Portugal que soma atracagens em Leça da Palmeira ou no rio Minho, caudal onde investigou a pesca da enguia de vidro, espécie conhecida como “meixão”.

“Em 1984 encontrei na praia da Aguda poso, casa e uma família. Aluguei uma casa de primeira linha com o mar e passei a acompanhar os pescadores locais. E assim nasceu o projeto ELA que abriu ao público em 1999 e esteve sempre aberto, 7.300 dias, ao longo dos últimos 20 anos”, acrescentou.

Mike Weber, o biólogo marinho que desenha e molda em barro figuras ligadas à pesca que estão já espalhadas por espaços emblemáticos de Vila Nova de Gaia, colabora desde a década de 80 com o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) como professor de ecologia aquática, é autor de 28 livros, entre os quais o “Novo Guia da Estação Litoral da Aguda” que é apresentado segunda-feira em português, inglês e chinês.

20 anos de portas abertas

A Estação Litoral da Aguda (ELA), aberta ininterruptamente em Vila Nova de Gaia há duas décadas, foi visitada por 400.000 pessoas e celebra segunda-feira aniversário com o lançamento de um guia da autoria do biólogo marinho Mike Weber.

“Subam para este corrimão para verem melhor os peixes”, diz, às crianças que chegam à ELA, o biólogo marinho Mike Weber, um alemão que se apaixonou pela Aguda, em Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, e ali fundou um aquário que em 20 anos nunca fechou. Nem aos domingos. Nem nos feriados.

Mas não são só os miúdos que “esbugalham” os olhos quando se deparam com os tanques da ELA onde vivem atualmente 1.000 animais de 60 espécies que representam a fauna e a flora locais.

Também graúdos, “muitos deles turistas internacionais de países como China, França Inglaterra, Espanha, Alemanha ou EUA”, conta Weber, ficam rendidos ao percurso preparado que inclui a recriação de poças de maré, um “mergulho” de 25 metros de profundidade e um regresso à terra através das ribeiras.

Há linguados escondidos na areia, um polvo ainda envergonhado e um lavagante de quatro quilos num “mega-aquário” instalado de frente para a praia da Aguda, mar no qual Mike Weber já navegou várias vezes com os pescadores locais.

“Eu, e outros colegas, podemos ser biólogos e cientistas, mas são eles [os pescadores] que têm a sabedoria. Têm uma experiência adquirida imbatível e admirável. Aprendo tanto com eles”, conta Weber.

Com um Departamento de Educação e Investigação dedicado à biologia e ecologia marinhas, aquacultura e pesca artesanal, a ELA, equipamento que em 2004 foi classificado, pela Direção-Geral de Veterinária, como “Melhor Jardim Zoológico” de Portugal, soma também 10 programas de educação ambiental preparados para todos os níveis de ensino e todas as faixas etárias.

Mike Weber estima que 60% dos visitantes da ELA sejam provenientes de escolas, mas também destaca a importância deste equipamento para os alunos do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), instituição que “envia” todos os anos alunos para terem aulas no anfiteatro do aquário de Gaia, no qual foram orientadas 10 teses de mestrado e dois doutoramentos.

A Estação Litoral da Aguda está, desde 2006, envolvida na investigação científica sobre o lavagante europeu, um projeto de marcação, captura e cultivo, a longo prazo.

“Até ao momento foram lançados 400 lavagantes marcados ao mar e a taxa de recaptura atingiu os 10%, dados que servem para calcular o crescimento em ambiente natural”, descreve informação sobre o aquário.

Além dos tanques, a ELA, que é gerida desde 2013 pela empresa municipal Águas de Gaia, tem um Museu de Pescas, espaço que exibe peças antigas e recentes, sendo que 75% do espolio é do alemão que chegou à praia da Aguda há 34 anos, publicou 28 livros e dezenas de artigos em revistas nacionais e internacionais.

“Não posso dizer que trabalho aqui [referindo-se à ELA]. Eu, na verdade, vivo aqui. Isto está aberto todo o ano. A minha casa física é em frente. Mas esta pequena praia é a minha casa. Tenho a minha família direta e depois tenho a Aguda toda como parente”, descreve à Lusa, Mike Weber.

O alemão é autor do “Novo Guia da Estação Litoral da Aguda” que é apresentado segunda-feira e que está escrito em três línguas: português, inglês e chinês.

“É uma obra que nos faz pensar o passado e refletir o futuro”, aponta o biólogo marinho que além de “emprestar” à ELA a sua coleção de artefactos de pesca, também empresta as figuras que compõem as exposições permanentes “PesCulturas” e “PesFiguras”, num total superior a 150 peças feitas em resina, porcelana, madeira, prata, pedra, entre outros materiais, compradas em viagens, antiquários ou encomendadas.

A ELA abriu ao público no dia 01 de julho de 1999. O projeto teve um custo de 1,5 milhões de euros, 75% dos quais assegurados pela secretaria de Estado de Turismo.

*Por Paula Fernandes Teixeira, da agência Lusa