“Saio destas reuniões com o ministro dos Negócios Estrangeiros e com o primeiro-ministro palestinianos com um sentimento reforçado da urgência do momento. Efetivamente, nós vivemos um momento que é potencialmente histórico”, disse João Gomes Cravinho, no final de encontros com o homólogo, Ryiad al-Maliki, e o primeiro-ministro Mohammad Shtayyeh, da Autoridade Palestiniana, em Ramallah, Cisjordânia.

“Temos 75 anos de crise e conflito no Médio Oriente e temos hoje, apesar das circunstâncias trágicas, uma convergência muito forte internacional em torno da ideia de que é necessário agora mobilizar todos os esforços para chegarmos ao único ponto de chegada que todos nós sabemos que é o ponto de chegada necessário, a solução de dois Estados”, comentou o chefe da diplomacia portuguesa.

O ministro salientou a necessidade de “aproveitar muito bem as próximas semanas, próximos meses”, advertindo: “Depois disso, haverá outras dinâmicas internacionais e perde-se esta oportunidade que nos parece única”.

No encontro que manteve esta tarde, juntamente com a homóloga eslovena, Tanja Fajon, o primeiro-ministro palestiniano “manifestou grande preocupação em relação àquilo que considera ser pressão israelita para que a população palestiniana saia de Gaza”, relatou Gomes Cravinho.

Sobre esta matéria, o governante reiterou a “posição portuguesa, mas também a posição da União Europeia”.

“A população de Gaza deve ficar em Gaza, deve ter condições para ficar em Gaza, desde logo toda a ajuda humanitária de que precisa e este momento não deve servir para qualquer relocalização da população”, disse, referindo que esta é uma questão “muito importante que tem um impacto grande para o futuro”.

Questionado pela Lusa sobre a disponibilidade de Telavive para uma solução diplomática para o conflito em curso na Faixa de Gaza, entre Israel e o grupo islamita Hamas, depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita ter garantido hoje que a guerra será retomada após a trégua de quatro dias, Gomes Cravinho assinalou que o diálogo privado que manteve com o seu homólogo “foi mais profícuo do que aquilo que pode transparecer a partir de umas declarações públicas”.

“Ao mesmo tempo, tivemos oportunidade de falar com o Presidente de Israel [Isaac Herzog], onde sentimos claramente a abertura e a necessidade de passar da atual situação para um outro patamar de diálogo e um outro patamar de estabilidade e de sustentabilidade da paz”, referiu.

“Sabemos que não há via militar que resolva as situações que são profundamente políticas e essa mensagem que transmiti repetidamente em Israel não foi de todo contrariada, pelo contrário, aqui e ali tive mesmo eco positivo”, garantiu.

Antes da deslocação à Cisjordânia, os ministros português e eslovena estiveram em Israel, onde visitaram um ‘kibbutz’ atacado no sul do país, perto da Faixa de Gaza, e se reuniram com o homólogo, Eli Cohen, com o Presidente israelita e com famílias de reféns raptados pelo Hamas no ataque de 07 de outubro.