Estudos realizados ao comportamento humano tinham já identificado que os seres humanos cometem mais crimes violentos quando a temperatura e a poluição do ar estão mais altas. Agora um estudo publicado na revista Nature veio revelar que o mesmo se passa com os cães: em dias quentes, de sol ou com neblina, os cães, tal como os humanos, ficam mais agressivos.

Os autores do estudo analisaram 69.525 relatos de cães que morderam pessoas, obtidos a partir de registos públicos de pedidos de controlo animal e de socorro. O objetivo foi avaliar o impacto dos fatores ambientais, nomeadamente a temperatura e a poluição do ar.

“Descobrimos que as taxas de cães que mordem pessoas aumentam com o aumento da temperatura e do ozono. Também observámos que níveis mais altos de irradiação UV estão relacionados com taxas mais altas de ataques de cães. Concluímos que os cães, ou as interações entre humanos e cães, são mais hostis em dias quentes, ensolarados e com neblina, indicando que o ónus social do calor extremo e da poluição do ar também inclui os custos da agressão animal”.

A agressão é um comportamento comum em várias espécies, explicam os autores, sendo esse comportamento justificado por “vantagens adaptativas para defender um território, obter recursos limitados, competir por parceiros ou proteger membros do grupo ou tribo”.

A temperatura mais alta aumenta a probabilidade de agressão em humanos, macacos e ratos. A exposição de curto prazo a poluentes do ar também parece aumentar a incidência de crimes violentos humanos, com base em análises de séries temporais de qualidade do ar e dados de registos criminais.

O estudo reuniu dados recolhidos em oito cidades dos EUA durante os anos de 2009 a 2018, em relação à temperatura e aos poluentes do ar , precipitação, irradiação UV, calendário e fatores sazonais.

De acordo com a Associação Americana de Medicina Veterinária, os cães mordem principalmente como reação a algo, como situações stressantes, sustos, ameaças ou para proteger comida, brinquedos ou as suas crias. Podem morder defensivamente ou para serem deixados sozinhos. Na análise que realizaram, os cientistas referem que  “não está claro se o comportamento do cão é diretamente alterado pelo ozono e pelo calor, ou se o aumento observado nas mordidas de cães é uma consequência do comportamento alterado imposto pela vítima humana e/ou pelo dono do cão, que em muitos casos são a mesma pessoa”.