Merkel, que considera o Acordo de Paris um "pilar fundamental" das tentativas de travar o aquecimento global, disse ainda que "a decisão dos Estados Unidos de sair do Acordo de Paris é lamentável. "E estou a expressar-me de forma reservada quando digo isto", adiantou, citada pela Reuters.

"Precisamos do Acordo de Paris para preservar a Criação", disse Merkel, filha de um pastor, mas normalmente muito reservada na sua fé. "Nada nos pode impedir de o fazer. Pelo contrário, na Alemanha, na Europa e no Mundo vamos juntar forças para enfrentar, com sucesso, os grandes desafios que se colocam à Humanidade".

Merkel acredita que o acordo rejeitado por Trump, por alegadamente ter custos "injustos" para a economia norte-americana, iria resultar em grandes oportunidades para o mundo. "Para todos aqueles que consideram o futuro do nosso planeta importante eu digo: vamos continuar neste caminho para que tenhamos sucesso pela Mãe Terra", acrescentou.

Pequim cerra fileiras

Ainda no rescaldo da decisão de Trump, também a China reiterou o seu compromisso com o Acordo de Paris.

“Nós pensamos que o Acordo de Paris é o maior compromisso da ‘comunidade internacional’ sobre a questão das alterações climáticas. As partes envolvidas devem proteger os resultados que foram conseguidos com esforço”, disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim, Hua Chunying.

De acordo com a declaração oficial, o governo da República Popular da China indica que “vai tomar medidas concretas” sobre as alterações climáticas. “Nós mantemos – sinceramente – as nossas obrigações”, sublinhou Hua Chunying. “Trata-se de uma responsabilidade da China e dos grandes países responsáveis face às necessidades do desenvolvimento”, acrescentou a porta-voz referindo-se ao Acordo sobre as alterações climáticas.

Pequim compromete-se a cooperar com os “membros da comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos” para fazer avançar um “desenvolvimento verde e livre de carbono”, referiu ainda Hua Chunying.

Em conjunto, a República Popular da China e os Estados Unidos representam 40 por cento das emissões poluentes, a nível mundial.

Renegociação?

"Não há marcha atrás na transição energética, não há marcha atrás sobre o acordo de Paris", disse Juncker esta sexta-feira, reiterando a ideia de que não há espaço para uma renegociação do acordo, como deseja Donald Trump.

No mesmo sentido, o francês Laurent Fabius, ex-presidente da COP21 (Cimeira do Clima de Paris onde foi firmado o acordo agora recusado por Trump), garantiu que "não está previsto que possa acontecer uma renegociação, está totalmente descartado", completou, indignado, antes de denunciar as motivações "eleitoreiras, ideológicas" do atual presidente americano.

Para Fabius, a justificação de Trump para retirar os EUA do acordo é "é uma mentira descarada". Donald Trump tomou uma decisão "vergonhosa", acrescentando que a "única reação possível é a mobilização mundial".

"É uma visão completamente falsa a de acreditar que seria positivo para os Estados Unidos sair do Acordo de Paris (...) A criação de empregos na área das energias renováveis será mais importante que o fim dos empregos nos setores antiquados", defendeu.

Para o atual primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, a saída dos EUA do acordo é uma "decisão desastrosa". "Reforça entre os signatários a urgência de ação e a necessidade de seguirmos unidos, de modo coletivo", afirmou.

Concluído em 12 de dezembro de 2015 na capital francesa, assinado por 195 países e já ratificado por 147, o acordo entrou formalmente em vigor em 4 de novembro de 2016, e visa limitar a subida da temperatura mundial reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa.

Portugal ratificou o acordo de Paris em 30 de setembro de 2016, tornando-se o quinto país da União Europeia a fazê-lo e o 61.º do mundo.

O acordo histórico teve como "arquitetos" centrais os Estados Unidos, então sob a presidência de Barack Obama, e a China, e a questão dividiu a recente cimeira do G7 na Sicília, com todos os líderes a reafirmarem o seu compromisso em relação ao acordo, à exceção de Donald Trump.