"Em nenhum momento autorizei que pagassem a quem quer que seja para ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém", disse Temer em conferência de imprensa convocada esta quinta-feira na sequência de uma polémica gravação em, alegadamente, que dá aval a um suborno pelo silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.
"Não renunciarei. Repito, não renunciarei e sei da correção dos meus atos", disse o Presidente, alertando que esta "conversa gravada clandestinamente trouxe de volta o fantasma de uma crise política de proporção não dimensionada" e coloca "todo o esforço de retirar o pais da sua maior recessão".
"Não temo nenhuma delação. Não tenho nada a esconder", reiterou o líder do Governo brasileiro, garantindo que a sua inocência será provada pela Justiça.
"Exijo investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro. Esta situação de dúvida não pode persistir por muito tempo. Se foram rápidas nas gravações clandestinas não podem tardar nas investigações e na solução respeitantemente a estas investigações", acrescentou.
Em causa está uma revelação do jornal brasileiro O Globo de que o empresário Joesley Batista, acionista da empresa JBS, gravou uma conversa na qual o Presidente Michel Temer o autoriza a pagar um suborno pelo silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, condenado por participação no esquema de corrupção na Petrobras.
Segundo o Globo, o empresário Joesley Batista disse alegadamente a Michel Temer que estava a dar ao ex-deputado Eduardo Cunha e ao operador financeiro Lúcio Funaro uma 'mesada' na prisão, para eles ficarem calados. Após ouvir esta informação Michel Temer terá respondido: “Tem que manter isso, viu”.
A gravação foi apresentada por Joesley Batista e Wesley Batista, irmãos e acionistas da JBS, aos procuradores do Ministério Público Federal (MPF) e o juiz Edson Fachin, que julga os casos da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), para negociar um acordo de delação premiada (colaboração em troca da redução da pena).
Segundo o diário brasileiro, na gravação, Michel Temer também teria dito a Joesley Batista que o deputado Rodrigo Rocha Loures seria responsável por resolver uma pendência da J&F (holding que controla a JBS) junto do Conselho Administrativo de Defesa Económica (Cade). Depois desta indicação, Rocha Loures foi filmado pela polícia brasileira a receber uma mala com 500 mil reais (142 mil euros) que foi enviada pelo empresário Joesley Batista. O deputado Rocha Loures é muito próximo do chefe de Estado, pois foi chefe de Relações Institucionais da vice-Presidência quando Michel Temer ocupava este cargo, durante a Presidência de Dilma Rousseff.
Michel Temer reagiu de imediato às acusações dizendo que “jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio de ex-deputado Eduardo Cunha”, num comunicado divulgado pelo Palácio do Planalto. Agora, em conferência de imprensa, Michel Temer reitera isto e garante que não vai renunciar ao cargo.
O caso já levou centenas de brasileiros às ruas em protesto, onde se manifestaram gritando "Fora, Temer!". O deputado brasileiro Alessandro Molon, do partido Rede, formalizou entretanto um pedido de destituição contra o Presidente, na Secretaria-Geral da Câmara Baixa do parlamento. Seguiram-se buscas em casas ligadas a três parlamentares do país supostamente envolvidos num esquema de pagamento de suborno denunciado pelos donos da empresa JBS, sendo eles, os senadores Aécio Neves - entretanto afastado do cargo - e Zezé Perrela e ao deputado federal Rodrigo Rocha Loures. Ainda esta tarde, e na sequência dos acontecimentos, o juiz Edson Fachin, relator dos casos de corrupção da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de um inquérito contra o Presidente do Brasil.
Segundo a Constituição brasileira, o Presidente da República só pode ser investigado por atos cometidos durante o exercício do mandato e com autorização do STF.
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